quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Kassab inicia investida para reverter desgaste e ajudar Serra que está caindo nas pesquisas

São Miguel Paulista é uma das subprefeituras mais ao leste da cidade de São Paulo. Antigo reduto petista, deu vitória ao prefeito Gilberto Kassab (foto) em 2008. Foi naquela região, ainda parcialmente submersa desde as chuvas do início do mês, que Kassab deu a partida, na manhã de ontem, à ofensiva para reverter o desgaste acumulado em seu primeiro ano como prefeito eleito.O anúncio veio no dia seguinte à divulgação da pesquisa Datafolha que revelou piora na avaliação do governo Kassab. A taxa de aprovação (ótimo ou bom), de 45% em março, caiu para 39%. Já a avaliação negativa (ruim ou péssimo) passou de 19% para 27%. O desgaste de Kassab começou ao assumir o cargo, em janeiro, com problemas financeiros que acabariam por repercutir politicamente.


Kassab cercado por jornalistas ontem em São Miguel Paulista: cidade é estratégica para Serra abrir vantagem no Estado sobre Dilma em 2010

Kassab anunciou a construção de 3.265 casas populares que ficarão prontas em 2012 e serão financiadas pela Caixa Econômica Federal, por meio do programa Minha Casa, Minha Vida, do governo Lula.A Caixa vai financiar R$ 160 milhões, o equivalente a 70% do projeto. A prefeitura vai arcar com os 30% restantes .

Na cerimônia de apresentação do projeto, o prefeito do demo Kassab agradeceu a Caixa e o governo Lula, mas não se ouviu nenhuma citação ao Minha Casa, Minha Vida. Destacou, porém, "a importância da parceria com o governador José Serra", que deve construir habitações populares aos moradores da região do rio Guarulhos, onde houve a maior parte das inundações na região metropolitana.

A bancada do PSDB na Câmara Municipal está sendo orientada a liderar derrotas de projetos impopulares que poderiam atrapalhar a campanha de Serra em 2010. Por outro lado, os tucanos viram o prefeito tirar aos poucos o poder de seus cargos de alto escalão ao ampliar espaços do DEM na prefeitura e preparar quadros para a sucessão de Kassab em 2012.

Com ajuda de Kassab, Serra prepara-se para o último ano de gestão e quer passar a imagem de tocador de obras em todo o Estado, onde pretende impor uma diferença de 4 milhões de votos sobre Dilma para compensar a força eleitoral de Lula no Norte e Nordeste. Não o fará se o prefeito paulistano permanecer em curva decrescente de popularidade.

Em algumas ocasiões, enquanto Kassab impunha medidas impopulares, o governador, temendo desgaste em 2010, usava de sua ascendência sobre o prefeito para que recuasse daquela medida. Foi assim, por exemplo, com a votação do reajuste do IPTU.

Kassab anunciou, então, um reajuste de até 40% para imóveis residenciais e 60% para os não residenciais. Foi bombardeado pela imprensa e pelo Palácio dos Bandeirantes, que chegou a sugerir reajuste de 20% ao longo de cinco anos. A bancada tucana na Câmara foi acionada e liderou um acordo que obrigou Kassab a recuar. O reajuste máximo acabou sendo de 45% para os imóveis comerciais e 30% para os residenciais.

Em setembro, ocorreram outros dois casos semelhantes. Para cortar gastos, anunciou que as crianças das creches paulistanas teriam uma refeição a menos das cinco que há anos costumam ter todos os dias. A repercussão foi tão negativa quanto as tentativas de explicação da prefeitura. "Faz tão mal à saúde comer demais", disse Kassab à época.

Dias antes, uma decisão do prefeito para economizar foi um tiro no pé. Ele anunciou corte de recursos da limpeza urbana e as empresas contra-atacaram com a ameaça de demitir quase 2 mil garis em três meses. Os garis fizeram greve de um dia, o que emporcalhou a cidade e levou o prefeito a recuar.

Todas essas medidas foram justificadas como meio de apaziguar os efeitos de um corte de R$ 3,2 bilhões e uma queda na arrecadação de 1% em relação a 2008, já descontada a inflação do período. Outros casos semelhantes mostram como as necessidades imediatas dos dois partidos - o PSDB quer voltar ao Palácio do Planalto em 2010 e o DEM, segurar o único cargo executivo relevante que tem em mãos depois das denúncias que tiraram do partido o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda - acabaram por criar rusgas entre ambos. "O Kassab precisa pilotar o Orçamento e o PSDB municipal olha primeiro o Serra", disse o cientista político da Fundação Escola de Sociologia e Política Rui Tavares Maluf.

Outra medida que deve afetar ainda mais a imagem do prefeito junto ao eleitorado paulistano é o aumento de 17,4% na passagem de ônibus em 2010. Em 2009, cumprindo promessa de campanha Kassab congelou o preço da tarifa e agora foi obrigado a conceder reajuste maior às empresas de ônibus a partir do ano que vem.

O autor da maioria das propostas polêmicas municipais é "super secretário íntimo" de Kassab, Alexandre de Moraes (DEM), que acumula os cargos de secretário de Transportes, presidente da São Paulo Transporte (SPTrans), da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) e, desde fevereiro, a Secretaria de Serviços (responsável pela limpeza e iluminação urbana e pelos serviços funerários). Sua última ideia, também impopular, foi reduzir a tarifa dos táxis nos fins de semana e nos horários de pico, o que causou indignação em parte dos mais de 30 mil taxistas da cidade.

Moraes é a principal aposta de Kassab para sucedê-lo no cargo e o que melhor representa o crescimento do poder do DEM na administração municipal, ao mesmo tempo em que o PSDB perde força e espaço. O último a sair foi Manuelito Magalhães, que ocupava a Secretaria de Planejamento. O ex-secretário acompanha Serra desde a época em que o atual governador foi ministro da Saúde no governo Fernando Henrique Cardoso. Deixou o cargo há menos de um mês. Andrea Matarazzo, ex-ministro e embaixador do Brasil na Itália no governo FHC, estava na prefeitura desde o início da gestão Serra, em 2005. Em setembro, pediu demissão da Secretaria da Coordenação das Subprefeituras.

Segundo o vereador Antônio Donato (PT), o Orçamento aprovado para 2010 tem cerca de R$ 1,5 bilhão de receitas não computadas, como os R$ 700 milhões referentes ao contrato da folha de pagamento de pessoal do administração municipal com o Banco do Brasil. O recurso será todo investido nas obras de ampliação do metrô paulistano, em parceria com os governos Serra e Lula. O contrato ficou de fora da contabilidade do Orçamento porque ainda não foi assinado, argumentou o governo Kassab. Outros R$ 750 milhões, de convênios federais, também não foram incluídos, como obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e projetos na área de Segurança e Habitação. "É uma maneira de diminuir o grau de congelamento de receitas e acelerar a liberação de recursos para obras sem licitação", disse o vereador petista.

Serra, também foi capaz de fazer os primeiros ajustes com vistas a 2012, ano de sucessão na prefeitura. Um exemplo disso foi a verba de R$ 126 milhões para publicidade eleitoral aprovada no Orçamento de 2010, um valor denunciado pelo PT como muito acima da média histórica, de R$ 38 milhões. Pela Lei Eleitoral, segundo Donato, o gasto com propaganda no último ano de governo deve corresponder à média dos últimos três anos da administração.

Do Valor Econômico

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