A lavanderia, ops, o HSBC entrou no Brasil pelas mãos de FHC e do Proer, criado para “não desestabilizar o sistema financeiro brasileiro”. Segundo matéria publicada pela insuspeitaVeja, “o HSBC não pagou sequer um dólar furado pelo Bamerindus. Não só não pagou, mas ainda recebeu alguns milhões para ficar com ele”. Realmente, os tucanos são muito bonzinhos. Leia a seguir o texto da revista, quando ainda não era um panfleto golpista.
Fazendo o melhor negócio de sua história, o HSBC comprou o Bamerindus e ainda ganhou de FHC dinheiro de mais de 40 mil acionistas.Pouca gente percebeu, mas o HSBC fez o melhor negócio de sua história ao comprar o Bamerindus, há cinco meses. O banco paranaense estava com as contas esburacadas, sob intervenção do Banco Central, que procurava uma maneira de evitar que 2,6 milhões de correntistas perdessem seus depósitos. O banco inglês apareceu, desembolsou R$381,6 milhões pelas contas, agências, prédios e a marca comercial do Bamerindus, e evitou-se assim um naufrágio danoso para o sistema financeiro.
“Queremos ser o maior banco comercial do Mercosul”, declarou, na época, Michael Geoghegan, presidente do HSBC-Bamerindus. Essa história todos conhecem. Só que ela foi contada pela metade. A outra foi escondida porque cairia mal diante de um público que não consegue entender por que o governo gasta dinheiro com bancos falidos em vez de ajudar hospitais quebrados.
A verdade, descobre-se agora, é que o HSBC não pagou sequer um dólar furado pelo Bamerindus. Não só não pagou, mas ainda recebeu alguns milhões para ficar com ele. Os números corretos foram escritos no documento que o BC enviou ao Senado para que aprovasse a venda. É um texto hermético, que nem banqueiro consegue entender. O Senado engoliu os números e ficou quieto. Para o público, ficou a história da carochinha.
O Bamerindus foi doado da seguinte maneira: os ingleses darão os R$381,6 milhões ao BC, em troca de 1.241 agências, ativos de mais de R$10 bilhões e uma das seguradoras mais rentáveis do país. Pagarão em sete anos, o que já é uma facilidade. Na surdina, o HSBC recebeu R$431,8 milhões do BC para reestruturar o Bamerindus e saldar reclamações trabalhistas.
O dinheiro serve para comprar computadores novos, contratar consultores, fechar ou abrir agências. O HSBC já sacou esse dinheiro, em três parcelas. Não foi um empréstimo, já que o dinheiro não retornará ao BC. O cálculo aritmético fica bem simples. Além de agências, prédios, depósitos e perspectiva futura de lucro, o HSBC ainda recebeu um troco de R$50,2 milhões.
O benevolente BC, para repassar o Bamerindus, concedeu outras vantagens. Primeiro,limpou a parte podre do banco paranaense, com recursos do Proer, no valor de R$2,9 bilhões. Tirou da barriga do Bamerindus a carteira imobiliária, um crédito problemático que ninguém queria receber. A carteira foi para a barriga da Caixa Econômica Federal, que recebeu mais R$2,5 bilhões do Proer.
Com isso, o Bamerindus, de instituição quebrada que era, virou um banco bom e foi esse banco que o HSBC “comprou”. Ainda assim, exigiu do BC garantias de que não teria prejuízo com algum eventual rombo não descoberto. O generoso BC concordou. E fez outra operação que não revelou ao público. Obrigou o Bamerindus a comprar R$1,27 bilhão em títulos da dívida externa brasileira. Os títulos estão à disposição do HSBC como garantia. Se houver algum prejuízo, o banco vende os títulos para se ressarcir. Toda transação financeira envolve algum tipo de risco. Faz parte do mundo dos negócios. No caso do Bamerindus, para conforto de seus compradores, não houve risco algum.
Nenhuma dessas operações é ilegal. O problema é a maneira como elas foram feitas, às escondidas. O BC escondeu numa numeralha contratual incompreensível o fato de que estava doando R$431,8 milhões. Usou o artifício da compra dos títulos da dívida externa para não mostrar que estava entregando uma garantia de R$1,27 bilhão ao HSBC. Esse é o pecado.
No trato com o dinheiro público, agir com clareza é uma boa política. O BC diz que não ocultou coisa alguma. O ex-presidente do BC Gustavo Loyola, responsável pela negociação com o banco inglês, confirma a operação, mas nega a moita. “Todos os detalhes da operação estavam no relatório enviado ao Senado no dia 8 de abril”, diz. Há também uma explicação para tantas facilidades. “A proposta do HSBC era a única que permitia resolver o problema do dia para a noite”, conta Loyola.
Não é bem assim. O BC não divulga esses documentos, sob a alegação de que são protegidos pelo sigilo bancário. Uma acionista minoritária do Bamerindus só conseguiu recebê-los depois de uma ordem judicial, numa ação em curso em Curitiba. Nem o ex-dono do banco, o senador José Eduardo de Andrade Vieira, soube dos termos do contrato.
Nem os outros 40 mil acionistas minoritários. Um grupo deles, dono de 30% das ações preferenciais do banco, contratou o advogado James Marins, de Curitiba, e um advogado paulista, Fernando Albino, para analisar as condições em que a venda foi feita. Também é estranha a afirmação de que o problema do Bamerindus teve de ser resolvido do dia para a noite. O governo sabia que o banco não estava bem antes mesmo de Fernando Henrique tomar posse no início do ano passado a situação ficou ainda mais grave. Um dos esportes prediletos do mercado financeiro, nessa época, era analisar os balancetes do Bamerindus a cada trimestre, constatar que a situação sempre piorava e tentar saber de quem era a culpa: de Andrade Vieira, o ministro? Da fábrica de papel que só dava prejuízo? Da queda da inflação?
O Banco Central, quando intervém numa instituição em dificuldades e lhe dá socorro financeiro, faz isso para que milhões de correntistas não percam seu dinheiro. A ajuda também tem a função de evitar uma quebradeira no sistema financeiro. Sempre que um grande banco quebra e as pessoas perdem, a tendência dos correntistas é sacar o seu depósito dos outros bancos.
Por isso, todos os governos socorrem o sistema financeiro quando há perigo de uma crise de confiança. O BC desembolsou quase R$17 bilhões para que o Nacional fosse comprado pelo Unibanco, o Econômico pelo Excel e o Bamerindus pelo HSBC. O dinheiro não foi para a mão dos banqueiros falidos, mas para garantir que os correntistas não seriam prejudicados. Até agora, imaginava-se que esses gastos tivessem sido feitos de maneira clara. No caso do Bamerindus, já não há tanta certeza.
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BRADESCO COMPRA HSBC NO BRASIL POR US$5,2 BILHÕESCom a compra da subsidiária brasileira, que tem R$160 bilhões em ativos, o Bradesco alcança a cifra de R$1,193 trilhão em ativos e se aproxima do seu maior concorrente, o Itaú Unibanco.
O Bradesco comprou todo o conglomerado do HSBC no Brasil por US$5,2 bilhões. O anúncio formal foi feito na madrugada de segunda-feira, dia 3/7, em Londres, depois de mais de dois meses de negociações e uma disputa que teve entre os candidatos ao negócio o espanhol Santander e o Itaú Unibanco.
A compra vai permitir ao banco brasileiro ultrapassar a marca de 30 milhões em clientes e cerca de R$1,193 trilhão em ativos no País. A operação, portanto, garante que o Bradesco encoste em seu principal concorrente, o Itaú, praticamente eliminando a distância existente desde a fusão com o Unibanco. No fim de março, o Itaú tinha R$1,295 trilhão em ativos.
“Para o Bradesco, a aquisição possibilitará ganho de escala e otimização de plataformas, com aumento da cobertura nacional, consolidando a liderança em número de agências em vários Estados, além de reforçar sua presença no segmento de alta renda”, destaca o Bradesco, em fato relevante, assinado por Luiz Carlos Angelotti, diretor executivo e gerente de relações com investidores do banco.
“A aquisição permitirá, também, a expansão de suas operações, com a otimização de oportunidades e aumento da gama e do diferencial dos produtos que são oferecidos no Brasil, especialmente nos mercados de seguros, cartão de crédito e administração de fundos (asset management)”, acrescenta a instituição.
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BRADESCO E HSBC GARANTEM A SINDICALISTAS QUE NÃO HAVERÁ DEMISSÕES EM MASSA“Os dois bancos reiteram a disposição de diálogo com o movimento sindical”, afirma presidenta do sindicato de São Paulo, Juvandia Moreira. Aquisição aumenta concentração bancária no país.
Representantes dos sindicatos dos Bancários de São Paulo e de Curitiba, da federação da categoria no Paraná (Fetec/CUT) e da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf/CUT) reuniram-se na terça-feira, dia 4/7, com a direção do Bradesco e do HSBC para garantir a manutenção dos empregos e direitos dos trabalhadores, após aquisição do banco inglês.
“Os dois bancos afirmam que não haverá demissão em massa e reiteram a disposição de diálogo com o movimento sindical. Até que saia a aprovação da venda, que pode durar seis meses, a gestão será do HSBC e o compromisso dos dois bancos é manter a transparência com os sindicatos e os trabalhadores”, disse a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Juvandia Moreira.
“A reunião nos tranquiliza porque eles garantiram que não haverá demissão em massa, mas vamos ficar atentos e acompanhando os desligamentos dos dois bancos. O banco também afirmou que o Bradesco, entre os interessados pela compra do HSBC, é o que apresenta maior complementariedade em relação a produtos, serviços e rede de agências, gerando menos atritos”, afirmou o presidente da Contraf/CUT, Roberto von der Osten.
Os sindicatos iniciaram um processo de recolhimento de assinaturas em todo o país para reagir a uma eventual situação de demissão em massa. O objetivo é chamar a atenção dos órgãos reguladores, governo federal e congressistas para a ameaça aos mais de 20.165 trabalhadores do banco britânico no Brasil. Em dezembro de 2014, o banco tinha 853 agências bancárias no país.
O setor bancário brasileiro já vive um oligopólio. Em 2014, os seis maiores bancos (Banco do Brasil, Itaú-Unibanco, Bradesco, Caixa, Santander e HSBC) passaram a concentrar 82,5% do ativo do sistema. Em 1999, esse mesmo índice era de 59%. Com relação às operações de crédito, observa-se a mesma tendência: enquanto em 1999 os seis maiores bancos possuíam pouco mais de 60% do total de operações de crédito do setor, em 2014 essa participação chegou a 84%.
Os cinco maiores bancos, antes da aquisição, concentravam 80% dos ativos, 84% do crédito, 87% dos depósitos à vista, 95% dos depósitos de poupança e 87% das agências. Depois da aquisição do HSBC, concentram 83% dos ativos, 86% do crédito, 92% dos depósitos a vista, 96% da poupança e 91% das agências.
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