Só hoje Obama decidiu agir em Honduras. Mas a mídia vai dizer que foi ele quem salvou a Democracia.
Dois episódios paralelos e simultâneos, ambos emblemáticos, expõem de maneira formidável o desencontro entre a mídia brasileira e a nossa realidade: as enormes vitórias do País conquistadas na Dinamarca (Olimpíadas) e em Honduras ( fim do golpismo e do gorilismo no Continente). Nas duas conquistas a ação do Brasil foi exemplar, exímia.
No que toca as Olimpíadas, a mídia não tinha como esconder o sucesso nem como não contagiar-se, mesmo a contragosto, com a euforia popular. Ainda assim, não disse o principal. Ela não disse: sim nós podemos. Sim, estamos dando adeus ao complexo de vira-latas.
No caso de Honduras, a mídia já admitiu que os golpistas estão em vias de ser derrotados. Mas de forma calhorda e sorrateira evita a verdade simples, a de que a derrota da gorilagem e dos serviços secretos norte-americanos só foi possível graças a atitude ativa e proficiente da diplomacia brasileira. Não fosse isto e os golpistas, secretamente apoiados pelos EUA, estariam empurrado o impasse com barriga até as eleições de novembro, quando o golpe seria “legitimado”. Só hoje, constrangido pela opinião mundial, Obama age efetivamente, dando prazo de 72 horas para que Micheletti negocie com os representantes da OEA.
Esquizofrenia é uma palavra forte. Mas não há outra para definir o atual estágio da grande mídia brasileira e de suas elites encasteladas no reduto tucano, última trincheira calabarista e do pensamento neoliberal que durante três longas décadas imperou como uma avenida unidirecional de pensamento, desgraçou a periferia do sistema empurrada para a marginalização e a miséria (vide África) e, por fim, detonou o seu próprio núcleo central com a colossal crise norte-americana. Crise que não é apenas financeira, mas do modo de produção capitalista em seu conjunto.
Em seguida, argumentado em tópicos para melhor fluidez do raciocínio, vamos tentar analisar sinteticamente estes episódios que estão mudando o rumo da nossa História:
1- O complexo de vira-latas, inspirada criação de mestre Nelson Rodrigues, não é, apesar do gênio do autor, um fenômeno característico do povo brasileiro, como ele supunha. É algo circunscrito às elites que pretendem, assim, distinguir-se do que ela chama periferia. Já dissemos neste blog que a burguesia nacional, embora parda ( vide Roberto Marinho, seu símbolo maior), sempre desejou ver-se diariamente ao espelho como um Kennedy, mas desespera-se e fica furiosa, por que tudo o que vê é o Lula. É este descolamento entre o desejo secreto e a realidade que conduz à esquizofrenia.
2- Quando repetimos, neste blog, que a função essencial da grande mídia é apontar na direção errada, não estamos insistindo em uma frase de efeito. O que queremos dizer é que o Sistema precisa deseducar seus súditos, precisa desinformar e produzir uma descomunal profusão de analfabetos políticos, aqueles que devem ser competentes para ajustar-se tecnicamente e produtivamente ao maquinismo global, mas intelectualmente devem ser incapazes de questionar este mesmo maquinismo. É assim, só assim que Capital Global (sistema) exerce seu domínio.
3- O método corriqueiramente utilizado pela mídia nesta missão inglória é o da descontextualizaçã o e da banalização daquilo que realmente é importante , somadas à indução ao egoísmo ao egocentrismo, ao popular “tô nem aí”. Numa palavra: a alienação massiva construía metódica e continuamente o que resulta nos conhecidos consumismo e falta de solidariedade social.
4- Como resultado disto, num movimento reflexo, a grande mídia passa a acreditar em suas próprias armações, invencionices e deturpações e induz seus leitores (pequena minoria da sociedade) ao tipo de demência, aqui denomina como analfabetismo político. É o que queremos dizer, quando repetimos sempre neste blog que a mídia supõe que a opinião pública é a opinião por ela publicada. Mas felizmente não é. Seja como for, a tucanagem e sua mídia acabam acreditando na versão, na ilusão por elas criadas. Passam a viver num mundo à parte, altista ou esquizofrênico.
Enfim, estes são temas para discutirmos na continuação deste artigo em outra oportunidade. Fiquemos por aqui, já que – e este talvez seja um outro efeito de tudo o que estivemos discutindo acima -, fomos habituados a bocejar sempre que ultrapassamos as primeiras vinte linhas de qualquer texto.
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