Há várias palavras e expressões que podem transmitir bem o que acontece hoje no meio político em Brasília. Corrupção talvez seja a primeira a ser pensada, vem automaticamente. Crise é outra. Ou ajuste fiscal, reforma política, maioridade penal, pedalada, superávit primário. Mas há uma palavra que reflete melhor o que acontece hoje em Brasília: hipocrisia.
Pois hipocrisia é o que mais há nos meios políticos. São muitos os exemplos. Um deles é querer localizar a corrupção em um partido, um governo e uma empresa estatal. Todos sabem que a corrupção em empresas estatais é antiga e vem de muitos governos atrás. E que partidos e políticos que hoje posam de vestais já se locupletaram à larga quando estiveram em governos federais e estaduais, e continuam se locupletando onde ainda estão.
Esses hipócritas apontam o dedo como se nada houvesse contra eles, descoberto ou ainda encoberto – em boa parcela por omissão interessada de segmentos do Ministério Público e da Justiça. Posam de bons moços, como se seus governos tivessem sido exemplos de austeridade com o dinheiro público e combate à corrupção. Não foram e não são.
E, em mais um gesto de hipocrisia explícita, esses que tanto falam da corrupção no desvio de dinheiro em empresas estatais defendem veementemente a continuidade do financiamento de campanhas eleitorais por empresas. Sabem que daí, embora não exclusivamente, é que vem grande parte dos superfaturamentos em obras e serviços e desvios de dinheiro público. Mas como é bom para eles, que fazem suas campanhas e ainda enriquecem com as “sobras”, querem que a fonte da corrupção permaneça.
Outra hipocrisia: partidos neoliberais e conservadores combaterem as medidas de ajuste fiscal propostas pelo governo e aprovarem medidas que sempre chamaram de populistas, demagógicas ou irresponsáveis. Para desgastar o governo e se cacifar na população insatisfeita, aprovam o que jamais aprovariam se estivessem no poder. Às favas com os escrúpulos, como disse o ministro da ditadura ao assinar o AI-5.
Há muitas outras manifestações de hipocrisia nos meios políticos. Pode a Câmara falar em moralidade quando seu presidente é Eduardo Cunha? Podem deputados e senadores interessados na continuidade de seus mandatos e de olho nas próximas eleições aprovar uma reforma política de verdade? A Câmara, o Senado, as assembleias legislativas, as câmaras de vereadores e a espantosa Câmara Legislativa de Brasília dão continuidade ao que são há muitos anos: balcões de negócios com disfarce de casas legislativas. A “reforma política” é para que continuem assim, e que os que hoje são congressistas possam continuar sendo e alçar voos maiores, em busca de melhores negócios.
Infelizmente é assim: muita hipocrisia. E ainda haveria muitos casos a narrar, no Executivo, no Legislativo e no Judiciário. Sem falar no Tribunal de Contas da União, para onde vão políticos e protegidos de políticos que fingem julgar com rigor e imparcialidade as contas dos outros e gastam desbragadamente o dinheiro público. Hipocrisia, claro.
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