Em rede nacional, presidente da Câmara faz balanço do primeiro semestre e não aborda propina que teria recebido. Rio, São Paulo, Espírito Santo, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Brasília tiveram panelaço.
Legenda: Cunha discursou durante cinco minutos, mas evitou críticas diretas ao governo
Um dia depois de ser acusado de receber US$5 milhões em propina, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB/RJ), fez um pronunciamento em rede nacional para falar sobre o balanço das atividades da Câmara no primeiro semestre. O deputado enfatizou o que chamou de “independência da Casa” e citou os projetos de lei aprovados desde que chegou ao cargo: reforma política, redução da maioridade penal, aumento de penas para crimes cometidos contra policiais e o projeto da terceirização, entre outros.
“A Câmara independente, de hoje, é um poder com muito mais iniciativa, conectado com as necessidades da população. Hoje, as principais demandas da sociedade é que estão pautando o nosso trabalho. E temos dado respostas mais rápidas para problemas urgentes”, disse ao comparar, com números, seu mandato em relações às gestões anteriores na Câmara.
Apesar do clima de guerra entre Cunha e o governo, por conta da delação contra o peemedebista na Operação Lava-Jato, o presidente mencionou apenas a crise econômica em seu discurso. “Hoje o Brasil vive uma crise. Crise com a qual todos sofrem e que o governo busca enfrentar com medidas de ajuste”, afirmou. “A Câmara tem avaliado essas medidas com critério. Atenta à governabilidade do País, que é nosso dever assegurar. Mas também às conquistas históricas do nosso povo, que é nosso compromisso preservar”, complementou o deputado.
No fim do discurso, que durou cinco minutos, Cunha prometeu continuar colocando em pauta as “demandas” da população. “Foi o povo que elegeu cada um dos 513 deputados da Câmara. É para o povo que vamos continuar trabalhando. Com independência, coragem, responsabilidade e eficiência”.
PanelaçoForam ouvidos panelas batendo, gritos de “Fora Cunha” e buzinas nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal, entre outros. Há dezenas de vídeos circulando nas redes sociais, como este abaixo, do centro de São Paulo e da zona sul do Rio.
De acordo com o Terra, as redes sociais se encheram de gente, hoje [17/7], perguntando “quem é Eduardo Cunha”. A cadeia – cadeia – de rádio e tevê que ele convocou serve para que se apresente a quem não o conhece.
Mas o Cunha que será visto e ouvido não é o mesmo de 48 horas atrás, mas um político em estado de choque, lidando de maneira abjeta e eventualmente suicida com a fogueira em que está metido.
Uma coisa é cair de pé. Outra é sair atirando e criando inimigos no mais absoluto desespero canalha.
Eduardo Cunha não pode continuar presidindo a Câmara se for denunciado por corrupção. Sua verdadeira face se mostra completamente no momento em que olha o abismo.
Numa coletiva em que soltava perdigotos e uma baba paranoica se formava no canto da boca, criou um complô formado pelo governo federal, por Janot, pela PF e por Sérgio Moro.
Quer convocar ministros para depor, ameaça procuradores, esperneia. São frentes de batalha demais para um sujeito só e que, paradoxalmente, demonstra sua noção de onipotência.
O Palácio do Planalto, afirma ele, tem “um bando de aloprados” que “vive de criar constrangimentos”.
“O governo faz tudo para me derrotar”, falou. “O governo não me engole”. Segundo ele, Janot pressionou o lobista Júlio Camargo a mudar seu depoimento. “Falta gente naquela cadeia ainda”.
O procurador “está a serviço do governo”, alega, sem explicar como isso se coaduna com o prejuízo que o PT e a gestão de Dilma têm com a Lava-Jato. O PMDB, rapidamente, soltou uma nota comunicando que a posição do presidente da Câmara é “pessoal”.
Caminha para o isolamento uma figura com uma ficha corrida invejável, que começou na carreira como braço direito do saudoso PC Farias na Telerj e que chegou aonde chegou na base do achaque, da intimidação e da impunidade.
Fernando Collor pediu, quando sua presidência já estava nos estertores, que os brasileiros saíssem às ruas num 7 de setembro de verde e amarelo, mas as pessoas preferiram o preto.
Cunha não tem como dar essa cartada, mas convocou um “aplausaço” de seus seguidores. É a república da cafajestagem, com a ajuda de Deus e dos paus mandados.
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