segunda-feira, 20 de julho de 2015

O controle do que vemos, ouvimos e lemos

Censura03
Nos EUA, nos últimos anos, produziu-se um espetacular avanço na monopolização dos meios de comunicação. A Lei das Telecomunicações (“Telecommunications Act”) de 1996 pode ser considerada como o ponto de partida desse processo.
Essa lei levantou as restrições que havia sobre a propriedade de estações de rádio. Antes dessa data, apenas uma empresa poderia ser proprietária de duas estações AM e de duas FM no mesmo mercado, sem exceder 40 em todo o país. Com a suspensão dessa norma uma onda de consolidações é desencadeada.
Nos seis anos posteriores à entrada em vigor da lei, “Clear Chanel Communications”, por exemplo, obteve o controle de 1.225 estações de rádio em 300 cidades. Atualmente, é proprietária ou controla mais de 6.600 estações, mais da metade das existentes nos Estados Unidos. Soma-se a isso uma rede nacional, “Premiere Radio Networks”, que produz, distribui ou representa aproximadamente 90 programas, atende em torno de 5.800 estações e tem cerca de 213 milhões de ouvintes semanais. Também inclui a “Fox News Radio”, “Fox Sport Radio” e “Australian Radio Network”, entre outras. Sua receita, em 2011, alcançou a cifra de US$6,2 bilhões.
Eliminadas as restrições para a consolidação vertical, faltava apenas remover as limitações que existiam à consolidação horizontal estabelecidas pela regra da FCC (“Federal Communications Commission”), de 1975 (“crossownershiprule”) que proibia a quem era proprietário de um jornal a posse de uma estação de rádio (ou de tevê) e vice-versa no mesmo mercado. A finalidade da regra era impedir que uma única entidade se tornasse voz dominante dentro de uma comunidade. Em 2003, a FCC flexibilizou tais restrições, mas o Terceiro Circuito de Apelações bloqueou a implementação das mudanças. Em março de 2010, o Tribunal levantou o bloqueio e abriu o caminho para a consolidação horizontal.
A imprensa escrita, falada ou televisiva segue as agendas impostas pelos proprietários. Quando estes são milhares, prevalece a diversidade de informação e de opinião dentro dos limites que permitam o “establishment”. Mas quando a consolidação ocorre em grande escala, como atualmente, a agenda que domina é a de poucos e poderosos proprietários. A ideologia que propaga a mídia é, logicamente, a mais reacionária possível e de ultradireita. Hoje temos mais canais de tevê do que nunca, sendo que uma quantidade substancial deles se dedica ao fundamentalismo religioso, às vendas por meio da televisão, ao mais frívolo entretenimento, ou à pornografia. Nos restantes, a qualidade caiu para seu nível mais baixo, o que, combinado com o excesso de propagandas, atinge limites embrutecedores.
Tudo isto é extremamente perigoso em uma sociedade que mal sabe ler e já perdeu a capacidade de discernir entre fatos e opiniões, porque está acostumada à seleção ou apresentação dos acontecimentos de acordo com os critérios estabelecidos. Os episódios são ignorados ou distorcidos para legitimar opiniões.
A desregulamentação abriu todos os mercados de telecomunicações, incluindo os de cabo ou satélite, e da Internet à concorrência desleal. Cinco conglomerados de mídia controlam 90% de tudo o que lemos, ouvimos e vemos. O que pode haver de estranho no fato de que dezenas de milhões de norte-americanos aprovem a guerra preventiva, os assassinatos seletivos de supostos inimigos dos Estados Unidos, a tortura de prisioneiros, as violações de fronteiras com drones, ou os crimes chamados de danos colaterais. Ou que ignoram completamente os sofrimentos da população de Cuba por causa de um bloqueio criminoso de meio século.
A consolidação produz meios de comunicação que não estão direcionados a toda a comunidade. Os anunciantes participam com ¾ da renda, e eles só se preocupam com o segmento da população com capacidade de compra de seus produtos ou serviços. Especificamente, a população de baixa renda não faz parte de seus interesses. A consolidação torna os cidadãos norte-americanos meros consumidores e espectadores.
Atualmente, o livre mercado é o critério com o qual os meios de comunicação são analisados. Isto é, a operação eficiente e o lucro máximo são os principais ou únicos objetivos, desconsiderando o importante papel que deve ser desempenhado pelos meios de comunicação na sociedade e na vida pública. Os meios de comunicação consolidados são, em geral, grandes e complexas instituições sociais, culturais e políticas e não somente instituições econômicas. Essas exercem uma profunda e negativa influência na sociedade. Se permitirmos que controlem o que vemos, ouvimos e lemos, também controlarão o que pensamos.
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No final do século 20, o estado capitalista passou a abandonar áreas vitais da economia, dos serviços, das comunicações, entre outras. Essas áreas ficaram nas mãos de grandes conglomerados, que têm como único objetivo a obtenção, a qualquer custo, do máximo de benefícios.
O processo de desregularização, que começou nos Estados Unidos, em 1996, com a aprovação da Lei de Telecomunicações pelo então presidente Bill Clinton permitiu que as empresas com interesses alheios à lógica da comunicação começassem a ser proprietárias dos meios de comunicação.
As megafusões do capital financeiro, industrial e militar, foram seguidas por um processo de concentração dos meios de comunicação de massa ainda maior. Emergiram verdadeiros monstros de mil cabeças que assim como produzem cereais, também produzem aviões de guerra, alimentos geneticamente modificados, carros, medicamentos, biscoitos, notícias, vídeo games e mísseis. Dessa mesma forma representam artistas, editam os livros, os jornais e as revistas que lemos, organizam e promovem campanhas presidenciais, ditam a moda, a política, preferências, inventam e organizam guerras, nos conectam a Internet e à televisão por satélite, controlam a energia e por aí vai.
É o mundo da democracia do consumo de massa, cada vez mais próximo do mundo deFahrenheit 451, previsto pelo escritor norte-americano Ray Bradbury. O mundo de seres alienados no qual a vida é uma espécie de “reality show” televisivo, onde não há um pingo de privacidade, de autodeterminação e de liberdade. É o universo orwelliano de 1984.
Neste mundo capitalista do século 21, a liberdade de expressão não é nada mais que a liberdade dos grandes conglomerados de dizer às pessoas o que interessa a eles. Isto não é nenhuma novidade, a única diferença é que, agora, essa “liberdade” é ainda mais limitada. Se anteriormente ela estava em poder dos proprietários dos meios de comunicação e constituía conforme se concebia no quarto poder, agora, esse poder sobre a “liberdade” está nas mãos de apenas cinco megatransnacionais.
Nos Estados Unidos, a Westinghouse – que além de fabricar geladeiras, liquidificadores e outros aparelhos eletrodomésticos, também faz parte do Complexo Militar Industrial dos EUA – se associa com a CBS Viacom.
A General Electric, também conhecida por seus famosos eletrodomésticos, empresa do Complexo Militar Industrial, se associa, ou melhor, se apropria da Fox News, Time Warner, Disney, Sony, AOL (líder mundial de um dos principais serviços de Internet), CNN-EMI, Time, Life e da People. Tem satélites, agências de notícias, redes a cabo, revistas, rádios, editoriais e a Warner Music Group, com mais de mil artistas contratados, entre os quais encontram-se Madonna e Eric Clapton. Possui 86% daquilo que vemos, ouvimos e lemos.
Na Europa, Lagarder, uma grande empresa de armamentos, fusiona-se com o Le Monde e compra importantes ações de Prisa, Dasau (Armamentos), com Le Figaro, Fininvest (Empresa de Berlusconi) com Mepiaset-Tele 5 e a Mediabanca-Fiat com Risoli Corrieri de la Cera.
Por sua vez, todos esses conglomerados europeus têm como sócios cada vez mais dominantes a Westinghouse e a General Electric, representados por Time Warner, Fox, Viacom, AOL e Sony.
Outro fenômeno interessante é a integração que ocorre entre essas megaempresas, às companhias de relações públicas norte-americanas, como a Burson-Marsteller, que opera em 35 países, com clientes como, por exemplo, a Monsanto e a Union Carbide, o Grupo Rendon, corporação de relações públicas especializada em forjar guerras, que trabalharam para Bush, pai e filho, e para Bill Clinton e as “psiops” militares (psico-operações militares), os psicoguerreiros.
Durante a guerra na Sérvia, psicoguerreiros do 3º Batalhão de Operações Especiais de Fort Bragg trabalharam com a CNN na produção de notícias. O Iraque foi o auge dessa interação, que seguiria depois com a Líbia, Síria, Venezuela, Ucrânia.
Esses charlatães, como são chamados pelos jornalistas, produzem e determinam os modelos de opinião a partir dos centros de poder político, econômico e militar. Se as empresas do complexo militar industrial são as grandes beneficiadas com as guerras e elas são as detentoras dos grandes meios da comunicação e Internet, cabe perguntar qual é o tipo de notícia e de informação que chega até nós através desses meios.
Muito em breve, não poderemos falar de império norte-americano, britânico ou alemão. Teremos que falar de Império Westinghouse, General Electric ou Monsanto, com seus exércitos privados de mercenários, como já têm operado defendendo os interesses desses grupos em diferentes regiões do planeta.

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