quarta-feira, 15 de julho de 2015

Prosperidade alemã foi construída de calote em calote

HipócritasO que a Alemanha desmemoriada não admite é que façam como ela fez, e não como ela manda.
O economista francês Thomas Piketty deu uma entrevista à revista alemã Die Zeit em que disse, entre outras coisas, que antes de exigir o pagamento a qualquer custo da dívida grega os alemães deveriam lembrar seu passado de devedores.
Segundo Piketty, a Alemanha nunca pagou suas dívidas. Cobrou, com a mesma intransigência de agora, a dívida de outros, como a reparação paga pela França com muito sacrifício depois da guerra franco-prussiana de 1870, mas não pagou sua própria reparação depois da 1ª Guerra Mundial.
Esta dívida foi perdoada em 1934, o que desmente a tese de que foram as exigências dos vencedores da guerra que levaram a Alemanha, ressentida, a seguir Hitler. Em 34 a Alemanha não foi humilhada, como diz a tese. Foi perdoada.
Em 1953, depois da 2ª Guerra Mundial, numa conferência realizada em Londres, decidiu-se perdoar 60% da dívida alemã, uma generosidade muito maior do que a que os gregos estão pedindo agora.
Foi este presente que possibilitou à Alemanha derrotada na guerra iniciar o “milagre” que a transformou na potência econômica que é hoje, na posição de mandar na economia de toda a Europa e pregar a austeridade e a “responsabilidade” que ela mesmo exemplifica. Uma superioridade moral conquistada de calote em calote.
Na entrevista, Piketty faz um histórico de dívidas nacionais através dos tempos, mostrando como há várias maneiras de cobrá-las ou equacioná-las além da ortodoxia assassina receitada por Ângela Merkel, mais preocupada com a saúde dos bancos credores do que com a saúde de populações inteiras privadas de assistência social pela tal austeridade.
O que a Alemanha desmemoriada não admite é que façam como ela fez, e não como ela manda.
O primeiro-ministro da Grécia não tem idade suficiente para conhecer um bolero chamado “Hipocrita”, do tempo em que havia boleros. Se soubesse, poderia serenar a senhora Merkel com ele, na próxima vez em que se encontrassem. O bolero começa assim:
“Hipocrita... Secilamente hipocrita...”
E termina assim:
“Escuchame e comprendeme,
no puedo ya vivir
como hiendra del mal
tu me enredaste
y como no me queires
me voy a morir”.

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