sexta-feira, 24 de julho de 2015

O que há debaixo das “tarjas brancas” do texto da Odebrecht? A conversa com a Folha que “só vale para mandar recados”

Odebrecht06_Marcelo_Folha
O leitor CM fez o mesmo que Stanley Burburinho, que identificou o autor das “tarjas pretas” com que a Polícia Federal (ou o Estadão) ocultaram alguns nomes – e divulgaram outros – nos textos de e-mail contidos nos celulares do empresário Marcelo Odebrecht.
Desta vez, porém, tirou as tarjas brancas que apagam, no arquivo divulgado pelo Estadão, os trechos das páginas 23,24 e parte da 25 do relatório da Polícia Federal – arquivo do jornal aqui – e nos permite saber do que elas tratam.
Mas o amigo leitor teve um trabalho que qualquer um pode fazer, sem qualquer conhecimento maior de informática.
Basta selecionar o texto “em branco” e colar num editor de texto ou mesmo no bloco de notas e… bingo! Lá está todo o “conteúdo secreto” que omitiram dos leitores.
E o que é?
Um belo exemplo do jornalismo “podemos tirar se achar melhor”…
São e-mails entre Marcelo e seus assessores combinando entrevistas, com conhecimento prévio do conteúdo – que beleza! – com a Folha de S.Paulo que só serviria se fosse “para mandar recados”.
Transcrevo os “arquivos confidenciais de Polichinelo”, para que os leitores possam ter acesso a tudo. Porque, se é pra vazar, não vamos usar o “método Ricúpero”, de esconder o que não interessa à mídia, não é? Apenas preservo o nome dos repórteres, que podem ter entrado de inocentes nessa história, simplesmente e aqui, ao contrário do que se faz na grande imprensa, não se acusa ninguém de algo se não estiver comprovado.
Os trechos “censurados” pelo Estadão, não têm, como se lerá, nada de ilegal, apenas o registro da intimidade e do favoritismo de Odebrecht na imprensa e o fato de, embora falem tanto de sua independência, ter sido feita com perguntas previamente formuladas e em nenhum momento citando a Lava-Jato.
Até mesmo o agente da Polícia Federal que faz o relato diz que “(em) Marcelo e seus colaboradores, verifica-se a intenção de conceder a entrevista somente se as perguntas forem antecipadas e sem conteúdo polêmico. Inclusive Sergio Bourroul argumenta que só vale a pena a entrevista se for possível mandar recados, não mencionando para quem, nem que tipo de recado seria, inclusive instrui Marcelo a capitalizar a concessão da entrevista, dizendo que que “abriu uma exceção em consideração ao pedido da direção do jornal”.
Eis o que foi “cortado” (e não foi, mas apenas pintado de branco, para que não se lesse) no arquivo divulgado pelo Estadão.
Assunto: Entrevista Folha de S.Paulo (Repórter “A” e Repórter “B”)Assistentes:
Localização: sala reuniões DP – 15º andar
Detalhes:
SB na coordenação.
Marcelo,
a primeira entrevista da série será com Abílio Diniz, a ser publicada neste domingo, dia 24. A sua será a segunda, no dia 31.
A reportagem estava aguardando as confirmações de Murilo (Vale), Roberto Setúbal (Itaú) e Joesley (JBS). Não sei se emplacou todos.
Você receberá dois repórteres (A e B), que virão acompanhados de um fotógrafo. Confirmado às 9h00 de amanhã e eu te acompanharei.
Abaixo, repasso os principais pontos que nortearão a conversa:
O país deve crescer abaixo de 1% este ano e os anteriores não foram muito melhores. Quais são os principais gargalos que impedem o crescimento?
O que é preciso mudar para que os empresários voltem a investir?
Na sua opinião, quais deveriam ser as três prioridades do governo logo no primeiro ano?
Independente de quem venha a ser eleito, a previsão geral é de um ajuste duro em 2015. Qual é a sua expectativa?
Os preços públicos, como gasolina, energia e tarifa de ônibus, estão represados. Qual seria a melhor estratégia para ajustar a economia: um tarifaço logo de cara ou aumentos graduais?
O Banco Central vem fazendo intervenções no mercado para segurar o real. O sr. acha que seria possível voltar ao câmbio flutuante de fato ou isso teria um impacto muito forte sobre a inflação?
O desemprego, que até agora estava controlado, começou a aparecer aqui e ali. O sr. acha que pode haver uma onda de demissões pela frente?
A campanha de Dilma se queixa de que o mercado faz terrorismo eleitoral quando aposta contra ela na bolsa e que não é a primeira vez que isso acontece no Brasil. Qual é sua opinião? O mercado faz terrorismo?
O Supremo está a um passo de acabar com o financiamento privado de campanhas políticas. Na sua opinião, isso é bom ou ruim?
O setor privado vive pedindo ajuda do governo, como benefícios fiscais e recursos do BNDES. Por que os empresários no Brasil dependem tanto do governo?
Abs,
De: Marcelo Bahia Odebrechtmbahia@odebrecht.com
Data: 6 de agosto de 2014 22:19:14 BRT
Para: Sergio Bourroul
Cc: Daniel Villar >, Leonardo Sa de Seixas Maia
, Zaccaria Junior
Assunto: Re: pedido da Folha de S.Paulo
Ok
From: Sergio BourroulSent: Wednesday, August 6, 2014 19:14
To: Marcelo Bahia Odebrecht
Cc: Daniel Villar; Leonardo Sa de Seixas Maia; Zaccaria Junior
Subject: Re: pedido da Folha de S.Paulo
Marcelo,
A sugestão de DV é boa.
Você fala se o repórter antecipar as perguntas. Vou solicita-las, ok?
E capitalizar dizendo que vc abriu uma exceção em consideração ao pedido da direção do jornal.
Enviada do meu iPhone
Em 06/08/2014, às 19:05, “Marcelo Bahia Odebrecht”  escreveu:
Se fosse uma entrevista apenas minha (e não uma serie) e como foco geral em nós, eu negaria. Não apenas pelo momento, como porque temos negado para todos.
Mas se o foco eh nas prioridades para o País nos próximos anos, e não em nós, e como parte de uma série de poucos empresários, minha tendência seria aceitar.
From: Daniel VillarSent: Wednesday, August 6, 2014 18:58
To: Sergio Bourroul; Marcelo Bahia Odebrecht
Cc: Leonardo Sa de Seixas Maia; Zaccaria Junior
Subject: RES: pedido da Folha de S.Paulo
Marcelo,
O que acha da demanda abaixo?
Já fui mais reativo no passado recente a uma participação sua, mas pelo contexto descrito pela CDN, e pela provocação de SB, pode haver espaço para mensagens da Organização, desde que enviem previamente as perguntas e que as mesmas não sejam politizadas.
De: Sergio BourroulEnviada em: terça-feira, 5 de agosto de 2014 19:11
Para: Daniel Villar
Cc: Leonardo Sa de Seixas Maia; Zaccaria Junior
Assunto: RES: pedido da Folha de S.Paulo
Daniel,
Favor avaliar a solicitação abaixo, da Folha de S.Paulo. Acho que devemos preservar MO, mas é possível que ele queira aproveitar para mandar algum recado. O repórter garante que não haverá questionamentos polêmicos e que envolvam diretamente a Odebrecht (Petrobras, BNDES, contratos, doação para campanha, preferências políticas etc.). Quer apenas abrir espaço para a opinião de MO sobre os gargalos do crescimento do Brasil e as prioridades do próximo governo.
Só vale se for para mandar recados. Caso contrário, declinamos com tranquilidade.
Obrigado,
Abs,
De: Zaccaria JuniorEnviada em: terça-feira, 5 de agosto de 2014 18:58
Para: Sergio Bourroul
Cc: Leonardo Sa de Seixas Maia; Elea Cassettari Almeida
Assunto: pedido da Folha de S.Paulo
Sérgio, o “repórter A” da Folha me procurou. Ele informou que o jornal vai aproveitar o período pré-eleitoral para discutir o futuro do país por meio de uma série de entrevistas com os principais empresários brasileiros. Eles devem abordar quais serão os desafios do próximo governo, independente de quem venha a ser eleito, para o país voltar a crescer, recuperar o otimismo, atacar os gargalos que, segundo eles, “impedem o país de deslanchar”. Palavras do “repórter A”: “A ideia é publicar uma entrevista por semana, como parte de uma série, e preparamos uma lista com os empresários mais respeitados do país. O jornal gostaria muito de contar a seus leitores o que o Marcelo Odebrecht pensa disso. A retomada do crescimento passa por mais investimentos e portanto pelo setor de infraestrutura e a Odebrecht tem tido um papel central nessa área. Nossa ideia é começar a publicar as entrevistas já no início deste mês. Estamos convidando Roberto Setúbal, Luiz Carlos Trabuco, Murilo Ferreira, Abílio Diniz, Pedro Passos, entre outros. Mas é uma lista restrita.”
Sérgio, acrescentando, David contou ainda que o secretário de redação (…) passou na mesa dele dia desses
para falar das entrevistas e perguntou: “E o Marcelo Odebrecht, que seria a cereja do bolo?”. Mais uma vez, palavras do David: “Queria que vocês soubessem e reafirmar que uma entrevista com ele teria espaço nobre e seria bem tratada”.

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