domingo, 4 de outubro de 2009

O CONSELHEIRO LARANJA E O MINISTRO

O presidente nacional do PPS – Partido Popular Socialista (?) – Roberto Freire fez declarações a jornalistas em São Paulo pedindo o afastamento do ministro das Relações Exteriores Celso Amorim e alegando como razão para seu pedido, de seu “partido”, o fato de Amorim ter se filiado ao PT.
Segundo Roberto Freire a política externa do Brasil está acima de partidos e ao se filiar a um partido Celso Amorim compromete o País num momento delicado. Referia-se ao abrigo dado pelo Brasil ao presidente constitucional de Honduras Manuel Ze laya na embaixada brasileira em Tegucigalpa.
Roberto Freire foi deputado federal pelo MDB eleito a partir de 1970 e até 1994, quando foi eleito senador. Em 2002 voltou à Câmara por falta de votos para reeleger-se senador (por pouco não perde as eleições para deputado federal em seu estado original, Pernambuco).
Hoje, cidadão paulista (parte do território brasileiro seccionada por organizações estrangeiras como PSDB, DEM. FIESP/DASLU) , garante a sobrevivência com a aposentadoria integral do Instituto de Pensão e Aposentadoria do Congresso Nacional e um jabá de doze mil reais numa estatal paulista para funcionar como laranja do governador José Serra em seus projetos presidenciais.
Freire é a pior espécie de político que se pode conhecer. Quando eleito deputado federal pela primeira vez, em 1970, no MDB, integrava os quadros do Partido Comunista Brasileiro (PCB). O caráter de frente política que caracterizava o MDB permanece em linhas gerais no PMDB, hoje.
Em 1989 Roberto Freire candidatou-se a presidente da República e empolgou determinada parcela da opinião pública, classe média inclusive, já no Partido Comunista Brasileiro.
Todas as vezes que era perguntado sobre o processo de privatizações que começava a ser montado no Brasil a partir de interesses estrangeiros e do neoliberalismo, respondia que a primeira coisa a se fazer “é desprivatizar o Estado”. Ou seja, não se podia privatizar o que já era privado, o Estado brasileiro.
Perdeu, mas conseguiu projeção nacional. Foi líder do governo Itamar Franco na Câmara e senador em Pernambuco por conta de uma aliança partidária quase imbatível que elegeu Miguel Arraes governador daquele Estado.
Nesse meio de caminho e antes de virar senador, Roberto Freire convocou um congresso do PCB e propôs a transformação do partido em PPS. Por via das dúvidas, já que manobrava atendendo a interesses pessoais e dos grupos pelos quais fora cooptado (os tucanos, particularmente FHC), tentou segurar na Justiça a “propriedade” da sigla PCB.
Não conseguiu. Verdadeiros comunistas infensos ao canto da sereia de tucanos, recobraram a sigla e retomaram aos caminhos da luta no que hoje é o que sempre foi, o Partido Comunista Brasileiro. Um partido identificado com os princípios marxistas, voltado para a luta popular e distante desse mundo podre da política institucional tal e qual se pratica no Brasil, pratica Roberto Freire.
As declarações de Roberto Freire não foram produto de sua vontade, ou do seu entendimento, ou do entendimento do seu partido (até porque ele decide sozinho, é dono do partido). Foram decididas no núcleo que sustenta e comanda a campanha de José Serra à presidência em 2010.
Parênteses, para explicar que Roberto Freire, como senador, foi um dos principais articuladores do governo FHC na condução das privatizações, das reformas determinadas pelo FMI e Banco Mundial, aquele negócio de “desprivatizar o Estado” era boutade de campanha.
O que Roberto Freire ignorou ao falar como laranja de um esquema, muito bem remunerado, não se esquecendo doze mil por mês, foi que ao longo da história dos vários governos brasileiros, boa parte dos ministros das relações exteriores tinha filiação partidária.
No governo de Getúlio, Osvaldo Aranha era filiado ao PTB (antigo, não esse arremedo de hoje) e chegou a ser presidente nacional do partido. Com JK os ministros Macedo Soares, Negrão de Lima, Sette Câmara eram todos filiados ao ex-PSD. Afonso Arinos Mello Franco, ministro de Jânio Quadros e de um gabinete parlamentarista de João Goulart, era filiado a antiga UDN e, o pior de todos os esquecimentos.
Fernando Henrique Cardoso, ministro das Relações Exteriores do governo de Itamar Franco era e é filiado ao PSDB (tucanos).
A exceção de FHC, todos os outros chanceleres citados acima eram homens dignos, de caráter, íntegros no trato da coisa pública e a filiação partidária não os impediu de colocar os interesses nacionais acima de interesses partidários ou pessoais, ao contrário de FHC, que usou o governo de Itamar como plataforma para o projeto neoliberal no Brasil a partir de agências e governos estrangeiros, caso da vinculação de FHC à Fundação Ford.
Esse sim, canalha, vendeu o Brasil. E com o voto de Roberto Freire, inclusive a favor da reeleição comprada a peso de ouro.
O ministro Luís Felipe Lampreia do governo FHC, por quase sete anos no Itamaraty, ou mais de sete anos, ao sair do cargo virou consultor de empresas privadas e o recente escândalo envolvendo a embaixatriz Lúcia Flecha de Lima em um caso de negócios com o senador ACM, mostrou como atuava o lobby de empresas privadas no governo do tucano e em muitos casos no Itamaraty. Foram vários os contratos obtidos pela OAS (Obras do Amigo Sogro), de um ex-genro de ACM nos países onde o marido de Lúcia era embaixador e com a participação direta do chanceler Lampreia.
Hoje, consultor, se vale das ligações e contatos que construiu no governo para continuar fazendo a mesma coisa.
Lampreia não tinha filiação partidária, é de carreira do Itamaraty.
Como se vê, a questão da filiação partidária de um ministro, qualquer que seja ele, não implica em ter mais ou menos caráter. Lampreia não tem nenhum, é agente de interesses estrangeiros no Brasil. Celso Amorim resgatou a política externa brasileira e conferiu ao País um respeito que não tinha no governo FHC. É só lembrar o chanceler que substituiu Lampreia, Celso Láfer. Submeteu-se a uma revista no aeroporto de New York, inclusive tirando os sapatos no período de paranóia de Bush com atentados. Ou seja, caiu de quatro.
O problema de Roberto Freire é que o ex-senador, ex-deputado e agora conselheiro laranja de Serra, numa estatal paulista qualquer, esqueceu-se da História. Rompeu seu compromisso com a História et por cause com qualquer princípio de dignidade ou respeito que chegou a merecer num determinado momento. Jogou fora a História e continua jogando fora sua história.
Declarações mesquinhas, pequenas, típicas de menino de recado.
Há uma diferença sem tamanho entre o ministro Celso Amorim, Chanceler com letra maiúscula e aqueles aos quais Roberto Freire está acostumado. Amorim nem cai de quatro e nem tira o sapato. E nem é laranja de ninguém por conta de doze mil reais por mês.

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