sábado, 28 de novembro de 2009

Cel. Ferreira abre o jogo e revela mistério do caso Alexandre que Rodney esconde

Foi um trabalho profissional perfeito. A jornalista Marina Denícola apresentou sua pauta ao entrevistado, ligou o gravador e, depois, transcreveu as declarações. O entrevistado é ninguém menos que o grande símbolo do mal no Espírito Santo, coronel reformado da PM Walter Ferreira. Ela não defendeu nem acusou. Não interferiu e deixou o coronel livre para dizer o que bem entendesse – enfocando, claro os principais fatos relacionados à atuação do secretário de Segurança, Rodney Miranda, em parceria com o juiz Carlos Eduardo Lemos, com sobras para interferências tendenciosas de delegados, juízes e até desembargadores.

O resultado é uma bomba. Ferreira começou dizendo ter “muitas coisas a responder, mas não por esses crimes que me acusam”. Começou, portanto, assumindo sua condição de réu em numerosos processos, inclusive de homicídios. Em suas palavras, “tudo o que acontece no Estado se resume a uma briga pelo poder”, acrescentando: “Esse pessoal, quando perde a chave do cofre, fica perdido igual a cachorro quando cai do caminhão de mudança”.

Marina Denícole dividiu o depoimento do coronel em capítulos: os assassinatos do pistoleiro José Maurício Cabral e do fazendeiro Antônio Costa, os casos Alexandre Martins e Manoel Corrêa da Silva Filho e, finalmente, Rodney Miranda. O que tornou a leitura do texto empolgante.

Sobre José Maurício Cabral, Ferreira reaforçou o que Século Diário vinha afirmando insistentemente. Não havia motivo algum para que ele se envolvesse nesse assassinato. Depois, abordou um fato que ninguém até agora havia entendido – o relacionamento de Cabral com os matadores do juiz Alexandre, informação que Rodney tirou da cartola para insinuar o envolvimento do coronel no crime e a morte da vítima relacionada ao latrocínio que vitimou o juiz.

Ferreira pergunta, então: “Como a polícia e a Justiça poderiam ignorar, na época, o relacionamento, se é que havia algum? Por que isto só foi comentado agora? Como aconteceu o relacionamento entre eles? Quando e como a polícia descobriu isso? Se o fato fosse verdadeiro, isso seria uma bomba muito maior do que os foguetes paraguaios soltados até agora pelo secretário de Segurança.”

Outra informação importante do entrevistado, seguida de questionamento não menos importante: “O próprio Rodney Miranda me disse que eu sou vigiado 24 horas por dia. Que meus telefones e o da minha família toda são grampeados. Então, como eles querem me ligar à morte do meu compadre, se eu estou tão vigiado? Como eu poderia fazer isso sem o conhecimento da polícia?”

Sobre a execução do fazendeiro Antônio Costa: “O assassino foi preso, processado e condenado. Não confessou o nome do mandante durante muito tempo e só veio confessar, não só o nome, como também a motivação do crime – desentendimentos havidos entre o filho de Pedro e os filhos de certo fazendeiro, sendo que a vítima foi contra os Vitale. O assassino, Elias Costa Vila Real, confessou tudo após a sua conversão religiosa.”

Em seguida, o coronel fala do caso Alexandre. Ele rememora: “Tudo começou quando Geraldo Corrêa Lima era o presidente do Tribunal de justiça. Seu substituto era o juiz Antônio Leopoldo, que, consequentemente, seria um virtual candidato a desembargador. Só que ele é filho de uma servente de escola. E todos os desembargadores têm nome e sobrenome. Assim, ele ganhou o comando da Vara de Execuções Penais de Vitória. E, depois, a companhia de Alexandre Martins, Carlos Eduardo KLemos e Rubens da Cruz”.

Esta parte da história é bem conhecida. Esses três juízes acabaram por derrubar Leopoldo e, mais tarde, Carlos Eduardo o empurrou como mandante da morte de Alexandre, com o apoio da polícia (leia-se Rodney Miranda). Agora, voltemos ao entrevistado de Marina Denicole: “O Alexandre e o Carlos Eduardo começaram a crescer e chegaram ao Thor do Império, nas denúncias da CPI da Lama, Aliás, as tais fiotas que Alexandre distribuiu são os depoimentos da CPI, que até os cachorros sabem. Por causa dela o Denadai foi morto. E quem arquivou a CPI da Lama foi o Álvaro Bourguignon, que hoje preside interinamente o tribunal. Por tudo isso, eu pedi a federalização do caso.”

Ferreira emenda: “A Polícia Militar sabe que eu não tenho participação na morte do juiz. Nem o Valêncio, nem o Calu, nem o Ranilson e nem o Leopoldo. Eles transformaram um latrocínio vergonhoso num crime de mando. O Alexandre só morreu porque reagiu ao assalto. Ele atirou primeiro e errou. Aliás, ele estava com uma pistola da polícia de forma irregular”.

Fechando esse relato, Ferreira diz que a tese do crime de mando surgiu quando a “turma” da Polícia Civil, liderada pelo delegado Danilo Bahiense, entrou nas investigações, “e então foi armada a versão de que eu tinha sido o mandante.”

Sobre Manoel Corrêa da Silva Filho – “agricultor, pistoleiro, maluco de pedra”, segundo suas palavras –, Fereira disse que ele foi preso “quando estava em um lixão da Grande Vitória, armado até os dentes, me esperando para um acerto de contas. Eu estava intermediando a venda de um terreno do Manoel, ele tinha me dado uma comissão e não concordava que eu recebesse também da empresa compradora”.

Adiante, ele revela: “No depoimento prestado a membros do MP, ele confessou ter sido convidado a assassinar a mulher do delegado Gilson Rocha. Disse que não aceitou a empreitada, pois achou que o plano não ia dar certo, mas outra pessoa aceitou e a mulher acabou sendo morta em uma simulação de acidente de carro. Detalhe: a mulher do delegado continua viva até hoje”. Na sequência, Ferreira diz: “Agora, eu pergunto: Manoel confessa mais de 200 mortes em meu nome e nenhum osso dessas vítimas é encontrado? Nenhuma família apareceu para reclamar apuração sobre estas mortes? Por que o depoimento do Manoel sobre a morte da mulher do delegado nunca foi levado em consideração? Perguntem ao delegado o que ele tem a dizer sobre o Manoel.”

A parte final do depoimento é sobre Rodney Miranda. Ferreira começa lembrando que o secretário tem duas fases no Estado – a primeira quando saiu do cargo por causa dos grampos e a segunda quando voltou e investigou a morte do juiz. Sobre o grampo, ele diz que a descoberta da interceptação aconteceu por acaso: “Um advogado, vendo aquele monte de fitas, resolveu ver o que era e chegou ali. O grampo escapuliu. Pois bem, a denúncia, as fitas, enfim, as provas do grampo foram encaminhadas ao diretor da rede no dia do julgamento do Lumbrigão. Ia detonar todo o processo. Mas o diretor resolveu não publicar e procurou o governador do Estado. Assim, o grampo só veio a público porque a denúncia foi parar na Federação Nacional dos Jornalistas, através da Suzana Tatagiba, então presidente do Sindicato dos Jornalistas do ES. O “Congresso em Foco” foi quem deu a notícia primeiro. Eles foram ao ministro da Justiça, que encaminhou o caso à Polícia Federal. Era uma denúncia muito grave. Imagine! Grampear uma rede inteira.”

E em seguida:

“Com a pressão, Paulo Hartung tirou Rodney para deixar as coisas esfriarem. Ele voltou porque tem todo mundo na mão. Documentos contra muitos políticos. Ele sabe de tudo. As fitas do Alexandre estão na mão dele. Ele segurou”.

O depoimento se encerra com Ferreira explicando por que Rodney tem raiva dele. “É porque, quando eu estava no Acre, eu o desafiei a provar (e não forjar) meu envolvimento na morte do juiz. Mas ele não é o articulador, apenas aceitou fazer o jogo.”

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