quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
Comentarista da RBS (afiliada da Globo) faz apologia à ditadura militar
O cara chega ao nível de loucura de dedicar seu comentário a Figueiredo, dizendo que o ex-presidente ensinou-nos o caminho da “verdadeira e legítima democracia”! Leia matéria sobre o assunto na Rede Brasil Atual.
Eu não ia comentar este absurdo. Mas não consigo ver um sujeito destes endeusar o Figueiredo e exaltar a ditadura sem lembrar de tudo o que eu e muitos amigos passamos naquele período. Certamente, o comentarista da RBS deve achar tudo aquilo muito normal. Ou talvez ache que foi um caso isolado. Como ele é jornalista, tenho certeza de que ele sabe que não foi. Pois bem, em 1969, meu tio, então um jovem, foi abordado na rua por militares. Por ter sido atropelado aos cinco anos de idade, ele sofria ataques convulsivos e por isso levava no bolso cartelas com medicamentos. Para os militares aquilo eram drogas e meu tio era um grande terrorista. Foi o motivo que arrumaram pra prendê-lo. Por cinco dias ele ficou desaparecido, encarcerado nu numa cela com luz constante. Bateram nele o quanto puderam e fizeram uma profunda lavagem cerebral num inocente que já sofria de problemas neurológicos. Só não o mataram porque meu avô moveu céus e terras e, através de um amigo que ele tinha na polícia, conseguiu achá-lo e provar que aquilo era um engano. Ele está vivo ainda hoje pra contar história, mas o que ficaram mesmo foram os traumas e a sensação de impunidade. Trauma, por exemplo, visível quando ele hoje se depara com uma blitz e a primeira coisa que faz é pegar os documentos, se desespera sempre achando que vai ser preso e viver aquele inferno de novo. Nada poderá apagar aquela tortura toda e nem as conseqüências dela, mas quero muito crer que um dia conseguirei olhar pro meu tio sabendo que o Brasil se deu a chance de fazer justiça.
Em 1977, já no Governo Geisel, o Presidente militar que mais matou na história da ditadura, eu, meus amigos e muitos outros estudantes secundaristas e universitários, fazíamos um protesto na Av. Rio Branco, centro do Rio de Janeiro, quando a polícia chegou batendo, espancando, atirando e vários manifestantes foram presos, inclusive eu. Fomos levados para o Quartel de Gragoatá, em Niterói, onde, nus, apanhamos muito. Levados à uma cela subterrânea, começou, de uma hora para outra entrar água e encheu atá transbordar pela janela da cela, que ficava no alto. Tinha 32 presos na cela. Mais ou menos 6 horas depois, a água vazou e haviam 10 vivos, eu e outros nove companheiros, que sabíamos nadar. Nada foi comentado. Nada foi julgado. Qual será o conceito de justiça para uma pessoa como este comentarista? Francamente, prefiro nem imaginar…
Obs: O cara diz que “podia andar nas ruas com segurança”. Do jeito que morre de amores pelos generais, acredito. Devia ter até escolta.
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