sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Quando as tropas percebem que um comandante age para salvar a própria pele ...



Às vezes é interessante analisar a política de forma distante, apenas racional, como se não tivéssemos lado.

E é curioso que em política os gestos falam mais do que as palavras.

Quando Lula e Dilma estiveram em Minas, no vale do Jequitinhonha e Juiz de Fora, Aécio Neves deu uma desculpa para não comparecer, nem mandou seu vice (candidato à sucessão), enviando um representante sem grande expressão política.

Mesmo que as falas de Aécio sobre o governo Lula sejam mansas, no estilo morde e assopra, seu gesto de ausência mostrou a seus seguidores uma liderança de oposição.

Para a turma de deputados demo-tucanos que vê-se em dificuldades para ir às urnas tentar a reeleição com o rótulo de oposição à Lula, e precisa de um líder que encabece a campanha e puxe votos, Aécio se apresentou a seu modo.

Na mesma semana, na sexta-feira passada, Lula e Dilma estiveram em Campinas (SP), na inauguração do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE).

Serra compareceu. É até saudável um governador e um presidente da República, adversários políticos, terem agendas administrativas do interesse do povo.

Mas a questão são os gestos políticos...

Naquela semana o PSDB abria artilharia pesada contra o PAC e ofensas pessoais à ministra Dilma. Mas Serra estava lá fazendo gracejos com metáforas futebolísticas, fazendo um discurso insosso, sem nenhuma crítica ao governo Lula, nem sequer camuflada nas entrelinhas.

Nem após o evento deu qualquer declaração à imprensa de caráter oposicionista, que motivasse sua tropa.

Os demo-tucanos também entraram na justiça contra Lula e Dilma, acusando-os de utilizarem-se de inaugurações como "palanque". No entanto lá estava José Serra no "palanque" de Lula e Dilma.

O fato se repetiu na segunda-feira, no aniversário de São Paulo. Lula e Serra estavam no mesmo "palanque" armado por Kassab na prefeitura. Lula foi preciso em seu discurso, ao lançar o PAC 2 para combater as enchentes que assolam São Paulo, atingindo um dos pontos mais fracos da gestão demo-tucana paulista. Serra fez o papel de constrangido, desconversando, sem fazer qualquer contraponto, nem de defesa, nem de ataque.

É estratégia de Serra mandar seu partido bater, e ele ficar longe da briga, se preservando de antagonizar com Lula e Dilma. Se funcionar ele continua candidato à presidente. Se naufragar, e Dilma conquistar uma grande dianteira sobre ele nas pesquisas, ele candidata-se à reeleição de governador sem fazer oposição ao governo federal.

Mas os sinais e os gestos, dizem muito, na política. E o "baixo clero" demo-tucano percebe isso.

Serra comporta-se como o general na guerra, que sabe da derrota no confronto direto, mas manda as tropas para serem dizimadas, enquanto ganha tempo e esconde-se na retaguarda para salvar a própria pele, à espera de uma virada, ou partir para uma rota de fuga.

Por isso já começa a haver um movimento de "cristianização" (*) de Serra entre as "bases" demo-tucanas. Candidatos a deputados estaduais e federais dos partidos de oposição, além de candidatos a governadores do Nordeste, quase todos raposas políticas profissionais, não estão satisfeitos com papel de oferenda em sacrifício, para serem dizimados, para salvar a pele apenas de Serra.

(*) "cristianização" é o processo em que o candidato é praticamente abandonado pelo seu próprio partido, que tende a apoiar outro nome de maior peso. A expressão surgiu na eleição de 1950, quando Cristiano Machado insistiu em candidatar-se pelo PSD, mas todos do PSD abandoram sua candidatura e apoiaram Getúlio Vargas (PTB).

De Zé Augusto

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