sábado, 30 de janeiro de 2010
Um Vice Enrolado Demais
O governador de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira (PMDB), interessado em antecipar sua campanha ao Senado, havia marcado solenidade na terça-feira 5 para transferir o comando do Estado para o vice-governador, Leonel Pavan (PSDB). A cerimônia teve que ser adiada. Antes mesmo da posse, as acusações contra o vice motivaram o PSOL a entrar com um pedido de impeachment na Assembleia Legislativa.
Pavan foi obrigado a recuar porque não se sentiu em condições de assumir o cargo. Em conversa com o governador, Pavan admitiu : “Não dá mesmo. Estou me sentindo no fio da navalha.” E ouviu do interlocutor: “Você é quem deve medir as consequências.” O temor não é gratuito. O vice-governador de Santa Catarina é citado em três operações da Polícia Federal sobre lavagem de dinheiro do narcotráfico, corrupção e fraudes em licitações milionárias. A situação preocupa o PSDB. O projeto para este ano era Pavan assumir o governo e ser candidato a mais um mandato. No entanto, o vice amarga clara desvantagem nas pesquisas – caiu de 17% para 9%. O risco para os tucanos é o possível candidato a presidente, José Serra, ficar com um palanque fraco no Estado.
Ou até mesmo sem um palanque. A queda de Pavan na preferência do eleitor ganhou força em dezembro, quando foi indiciado pela Polícia Federal depois de aparecer em escutas telefônicas e vídeos gravados na Operação Transparência, que investigou um esquema para beneficiar a Arrows Petróleo, empresa petrolífica carioca, em licitações.
A Arrows tem dívidas milionárias com o Fisco, mesmo assim obteve na Secretaria Estadual de Fazenda de Santa Catarina a documentação exigida para entrar em um edital. Segundo a PF, Pavan teria sido o intermediário para ajudar a Arrows. O caso foi parar no Ministério Público e o procurador-geral de Justiça, Gercino Gomes Neto, num despacho de sete páginas, apresentou denúncia contra Pavan. O vice admite que tentou intermediar a renegociação de um débito da petroleira Arrows, mas, em sua defesa, diz que a operação não foi concluída. O fato gerou um impasse político no Estado e foi o que fez o governador Luiz Henrique adiar sua desincompatibilização e o início de sua campanha para o Senado. Pior: beneficiou diretamente a oposição. As candidatas Ângela Amim (PP) e Ideli Salvatti (PT) assumiram a dianteira nas pesquisas para o governo catarinense. “O Pavan é uma figura que só atrai rolo”, lamenta um auxiliar de Luiz Henrique. O que deixa integrantes do governo Luiz Henrique preocupados é o fato de Pavan ser reincidente. Em 2008, a Operação Influenza prendeu uma quadrilha especializada em operações cambiais ilegais e fraudes em licitações. As escutas, obtidas por ISTOÉ, mostram que Pavan tinha contato com o empresário apontado como o chefe da quadrilha, Francisco Carlos Ramos.
Nas gravações, os dois conversam sobre negócios.
“Te liguei porque surgiu um negócio, uma oportunidade, uma coisa, acho que muito boa, aí precisa de nego que tem bala na agulha”, diz Pavan a Ramos. “É um negócio que movimenta milhões”, completa Pavan.
E Ramos responde: “Vou estar até domingo aí. Vamos nos encontrar e conversamos pessoalmente. É melhor, não é?”
Em outra escuta, os dois conversam sobre a construção de três fábricas em São Paulo e Mato Grosso.
“O empresário estava buscando parceiros e nós estávamos procurando investimentos para o Estado”, afirma Pavan.
O nome de Pavan também apareceu na Operação Zapata, deflagrada pela PF em 2006 para prender o traficante internacional Lúcio Rueda-Busto, que no Brasil usava o nome de Ernesto Plascência. Um dos cabeças do Cartel de Juarez, no México, Plascência coordenava a exportação de US$ 200 milhões mensais de cocaína para os Estados Unidos. O Brasil era utilizado como base do esquema. O dinheiro era lavado com imóveis no Balneário Camboriú (SC), onde Pavan foi prefeito três vezes. Quando Plascência foi preso, os policiais descobriram que um dos amigos do traficante no Brasil era Pavan.
“Pelo amor de Deus, não estou ligado a estas pessoas”, nega.
No entanto, Pavan chegou a tirar fotos abraçado a Plascência e ao empresário Roberto Carlos Castagnaro, que é sócio do traficante em duas empresas no Brasil.
Pavan entre o traficante de drogas Rueda-Busto e o sócio dele, Castagnaro
RELAÇÕES
Castagnaro era garçom de uma churrascaria da família de Pavan e teria ficado milionário. Um dos investigados, o advogado Rafael Pierozan declarou à PF que Castagnaro é sócio oculto de Leonel Pavan na TV Panorama, uma emissora educativa que o vicegovernador utilizou para fazer política partidária. “Roberto Carlos é parceiro do senador Leonel Pavan na TV Panorama, na porcentagem de aproximadamente 40%”, acusou Pierozan.“Não tenho negócios com Castagnaro”, nega o vice-governador.
Ao longo dos últimos dez anos, enquanto seu nome passou a frequentar inquéritos policiais, Pavan conseguiu triplicar seu patrimônio – de R$ 774 mil no ano 2000 para R$ 2,46 milhões em 2006. Ouvido em uma das investigações da PF, em 2003, o motorista Itamar Espíndola, que fazia serviço para autoridades em Santa Catarina, deu pistas ao Ministério Público sobre a origem do dinheiro acumulado por Pavan.
Ele revelou que carregava dólares, verdadeiros e falsos, para Foz do Iguaçu. Segundo ele, Pavan é quem pagava as viagens para a cidade paranaense. Esta não foi a primeira vez que Pavan apareceu em uma investigação sobre moeda falsa. Em 1996, durante a sua segunda campanha à Prefeitura do Balneário Camboriú, o irmão dele, Lauri Pavan, foi preso com 32 notas falsas de R$ 50, dinheiro que, segundo investigação do Departamento Especial de Investigações Criminais do Estado, seria usado para comprar votos. Quando estava no Senado, Pavan também foi envolvido em mais uma ilegalidade: contratar a empregada doméstica, Roseli Nagel, como “assessora parlamentar” e, portanto, pagá-la com dinheiro público. O caso virou um símbolo das mordomias do congresso."
Da IstoÉ
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