quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

DEMOCRATAS , QUANTO MAIS MEXE MAIS FEDE E RESPINGA NO PSDB


Demostenes, que defende intervenção no DEM do DF por causa das denúncias de corrupção, recebeu R$ 58 mil da Linknet: “Não tenho nenhum problema”

Apontada por Durval Barbosa como a empresa que teria abastecido o caixa dois da campanha do governador afastado José Roberto Arruda (sem partido), a Linknet Tecnologia, uma das empresas mais enroladas nas denúncias da Operação Caixa de Pandora, registrou na Justiça R$ 2.011.922,14 em doações nas últimas eleições a candidatos do Distrito Federal e Goiás. Entre os beneficiados estão o atual governador de Goiás, Alcides Rodrigues (PP), o senador Demostenes Torres (DEM) e o prefeito de Aparecida de Goiás, Maguito Vilela (PMDB), que se enfrentaram na disputa ao Palácio das Esmeraldas nas últimas eleições.

Candidato à reeleição, Alcides Rodrigues recebeu R$ 400 mil dos R$ 15,6 milhões que arrecadou, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Maguito, que disputou o segundo turno com Alcides, recebeu R$ 300 mil. Um dos maiores críticos da vinculação que adversários fazem do escândalo ocorrido em Brasília com o seu partido, Demostenes recebeu R$ 58 mil da Linknet, em 2006. A Linknet é investigada pelo Ministério Público desde 2002, quando houve suspeita de favorecimento ilegal à campanha à reeleição de Joaquim Roriz, então no PMDB.


Gilberto Lucena, da Linknet, aparece em vídeo negociando suposta propina

Em 2003, numa das ações judiciais, promotores de Justiça do DF sustentaram que dinheiro do governo do Distrito Federal repassado à Linknet foi usado na compra de urnas eletrônicas para ensinar o eleitor a votar em Roriz. “Todas as doações que recebi estão declaradas e idôneas. Algumas empresas doam para o candidato que tem mais chance e também para os outros”, disse Demostenes. “Não tenho nenhum problema com isso, tanto que estou pedindo a expulsão do Paulo Octávio”, acrescentou.

Em Goiás, um dos favorecidos pela Linknet foi o deputado Marcelo Melo (PMDB-GO) que recebeu R$ 50 mil na sua última campanha. De Luziânia, ele é um dos maiores aliados de Roriz no partido. A Linknet tem origem em Goiânia e vínculos com o DF. O Atlético Clube Goianiense, time que tem como cartola o ex-secretário de Fazenda do DF Valdivino Oliveira(1), é patrocinado pela empresa, que se transferiu para Brasília em 1999.

Na capital

No Distrito Federal, a Linknet ajudou, em 2006, as candidaturas do deputado Laerte Bessa (PSC), com R$ 40 mil, e da então governadora Maria de Lourdes Abadia (PSDB), contemplada com R$ 600 mil. O advogado Everardo Alves Ribeiro, que representa Durval em ações no Tribunal de Justiça do DF, recebeu R$ 20 mil. O maior beneficiário das doações da Linknet foi Roberto Lucena(2), irmão do dono da Linknet, Gilberto Lucena. Ele declarou R$ 439,8 mil. Mais de 90% de sua campanha foi feita pela empresa de informática da família. Suplente de deputado distrital pelo PMDB, ele deverá votar nos processos de impeachment de Arruda e do governador em exercício Paulo Octávio (DEM).

A Linknet é citada em várias partes do Inquérito nº 650, em tramitação no Superior Tribunal de Justiça (STJ), que investiga um suposto esquema de corrução relacionado a desvios de recursos de dinheiro de empresas prestadoras de serviço de informática para pagamento de propinas a deputados e secretários, governador e vice. Em uma das gravações feitas por Durval, Gilberto Lucena, o dono da empresa de informática, reclama com Durval por ter de pagar percentual alto de propina para conseguir a liberação de faturas relacionadas a serviços já prestados. Paulo Octávio nega ter recebido dinheiro das empresas de informática e garante que não há imagens que o relacionem ao esquema denunciado por Durval.

Em depoimento à Polícia Federal (PF) e ao Ministério Público, Durval declarou que recebeu de Lucena R$ 3 milhões na garagem do Palácio do Buriti. O dinheiro teria sido guardado no porta-malas do carro de Durval e tinha como destinatário, segundo o ex-secretário de Relações Institucionais, o governador Arruda. O objetivo seria usado como parte do acordo de separação de Arruda com a ex-mulher Mariane Vicentini, de acordo com o depoimento de Durval incluído no inquérito do STJ. Ainda segundo Durval, a Linknet bancou todas as despesas do escritório político de Arruda nos quatro anos que antecederam a campanha de 2006. Os advogados do governador afastado negam a acusação e dizem que as acusações de Durval fazem parte de uma trama política para prejudicá-lo.

1 - Entre o DF e Goiás

Valdivino Oliveira foi secretário de Fazenda entre 1999 e 2006, no governo Roriz, e depois retornou na gestão de José Roberto Arruda, mas sempre fez política em Goiás. Vice-prefeito de Goiânia entre 2004 e 2008 pelo PMDB, migrou para o PSDB, onde deverá se candidatar a uma vaga de deputado federal nas próximas eleições.

2 - Suplente com voto

Médico da Secretaria de Saúde, Roberto Lucena já chegou a assumir o mandato na atual legislatura, como suplente do PMDB. Ele deverá participar das votações dos pedidos de impeachment porque uma liminar impede que os distritais investigados na Operação Caixa de Pandora participem de qualquer deliberação sobre o assunto.

Não tenho nenhum problema com isso, tanto que estou pedindo a expulsão do Paulo Octávio”

Demostenes Torres, senador (DEM-GO)


Prestação de contas

Veja quanto os políticos abaixo receberam de doações da Linknet para a campanha de 2006. Os dados estão no site do TSE:

Governador Alcides Rodrigues Filho (PP-GO) - R$ 400.000
Senador Demostenes Torres (PFL-GO) - R$ 58.118,55
Então candidato a deputado distrital Everardo Alves Ribeiro (PMDB-DF) - R$ 20.000
Deputado estadual José Nelto Lagares das Mercez (PMDF-GO) - R$ 27.100
Deputado federal Laerte Bessa (PMDB-DF) - R$ 40.000
Prefeito de Aparecida de Goiânia Luiz Alberto Maguito Vilela (PMDB-GO) - R$ 300.000
Deputado federal Marcelo de Araujo Melo (PMDB-GO) - R$ 50.000
Então candidata ao GDF Maria de Lourdes Abadia (PSDB-DF) - R$ 600.000
Então candidata a deputada estadual Rachel Azeredo Souza
(PMDB-GO) - R$ 26.837
Suplente de deputado distrital Roberto Batista de Lucena
(PMDB-DF) - R$ 439.866,59
Deputado estadual Thiago Mello Peixoto da Silveira (PMDB-GO) - R$ 50.000

Desgastado, DEM vive um dilema


Ronaldo Caiado, um dos caciques que apoiam a expulsão de Paulo Octávio

Vizinho ao Distrito Federal, portanto geograficamente mais próximo do escândalo envolvendo o GDF, deputados distritais e aliados, o senador Demostenes Torres (DEM-GO) chega amanhã a Brasília com três pedidos para apresentar à Comissão Executiva nacional do partido: dissolução do diretório do Distrito Federal e nomeação de um interventor; expulsão do governador em exercício, Paulo Octávio; e um reforço à determinação de afastamento de todos os ocupantes de cargos de confiança no GDF que sejam filiados ao partido. “O DEM já deveria estar o mais distante possível desse caso do DF. Não dá para pagarmos por isso”, afirmou Demostenes, que tem o apoio do deputado Ronaldo Caiado, líder do partido na Câmara.

O afastamento de todos os democratas do governo foi pedido na semana passada e será mantido. Mas, em relação à dissolução do diretório e expulsão de Paulo Octávio, há um grupo que prefere a cautela. “Algumas pessoas entendem que não há nada concreto contra o vice-governador” , pondera o tesoureiro do partido, Saulo Queiroz, favorável à análise dos pedidos, se acontecerem, só na próxima quinta-feira, conforme antecipou ontem o Correio.

A avaliação da cúpula partidária é de que há dois fatos importantes esta semana: a reunião de Paulo Octávio com os partidos do Distrito Federal e o encontro do governador em exercício com o presidente Lula, amanhã à tarde. Ambos podem dar ao vice algum fôlego no cargo. Se ele conseguir, é bem provável que o vice-governador ganhe algum oxigênio no DEM. Afinal, ele já foi senador e tem algum trânsito entre os parlamentares que hoje comandam a legenda.

Confiante

Ontem, Paulo Octávio disse estar confiante em sua permanência no partido. “Estou confiante que vou ficar no partido e o apoio dele (partido) é importante para um administrador. Tem muita gente viajando agora. Vou esperar o recesso passar para começar a tratar disso”, disse.

A expectativa do DEM é de que o pedido de intervenção que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF) seja analisado antes de a Comissão Executiva Nacional ser obrigada a decidir sobre medidas drásticas como a expulsão do vice ou a dissolução do diretório regional. Se a intervenção for aprovada, avaliam setores do DEM, os personagens ficariam fora do foco.

Só que Paulo Octávio, por sua vez, não deseja a intervenção e já se referiu a ela “como uma violência a Brasília”. O vice, na verdade, deseja ficar no cargo para cumprir o mandato até o fim e, embora diga que não pretende concorrer a qualquer cargo eletivo, ninguém da sua equipe aposta que ele vai querer ficar sem mandato. Daí a luta para permanecer no DEM.

O que deixa inseguros setores do partido em relação a seus quadros no DF é o que ainda pode vir nos vídeos não divulgados por Durval Barbosa. Mas, enquanto alguns defendem a ação imediata para evitar dissabores futuros, outros afirmam que não se pode punir por presunção de culpa. É esse o dilema que o DEM terá que analisar na semana que vem.

Segunda de descanso

O governador em exercício do DF, Paulo Octávio, resolveu tirar a segunda-feira de carnaval para descansar. Ameaçado de ser expulso do Democratas, ele guarda energias para tentar convencer seus pares a continuar na legenda. Ao Correio, por telefone, na manhã de ontem, Paulo Octávio garantiu que suas atenções estão voltadas para a administração do DF. “Estou dedicado à política local, focado em governar o DF da melhor forma possível. Tenho que fazer uma administração responsável e é isso o que importa no momento”, resumiu.

Até sexta-feira feira passada, Paulo Octávio era presidente regional do DEM, mas pediu licença do cargo. A saída, segundo ele, daria mais autonomia para buscar o apoio de outros partidos. Sua ascensão ao posto mais importante do Executivo local não foi bem como ele esperava. Mal assumiu o cargo, tornou-se alvo de quatro pedidos de impeachment protocolados na Câmara Legislativa.

Apesar da crise sem precedentes na política que culminou na prisão de José Roberto Arruda, na última quinta-feira, Paulo Octávio tenta manter a rotina de governo. No domingo último, visitou as obras no prédio da internação do Hospital de Base do DF (HBDF). No dia anterior, em vez de comemorar seu aniversário de 60 anos, foi conferir o andamento das obras da Linha Verde, na Estrada Parque Taguatinga (EPTG).

De Ana Maria Campos, Denise Rothenburg e Saulo Araújo

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