É difícil viver sorrindo em um mundo estampado de tristezas, tragédias e
mentiras. Abrimos a televisão e o que vemos e ouvimos, não poucas vezes, é
puro lixo, da pior espécie, pois além de não poder ser reciclado em
informação nem conhecimento, contamina e apodrece a consciência; a sua, a
minha, a nossa consciência – um tanto quanto inconsciente.
Concluímos que não dá para continuar com a bunda anexada ao sofá, assistindo
de camarote os absurdos disparados dia após dia pela mídia, enquanto o mundo
vai adoecendo, estremecendo e afundando, de omissão em omissão. Quantas
drogas são necessárias para se ignorar o drama da realidade? Quantos vícios
precisam ser fabricados ou reeditados para que nossos sentidos mantenham-se
imunes e indiferentes aos problemas dos outros?
Pessimismos e descalabros à parte, é proibido esquecer que a magia da
esperança dança, feito criança pura, em todo lugar do mundo, em cada ternura
da gente, nas epopéias e agruras dos povos, apesar dos tropeços e recomeços
de suas revoluções, ideologias, instituições e nações. Sem esperança, o amor
não tem cura e a paz nunca dura.
Não deixem que a sensação de fracasso e a epidemia da perdição escureçam
seus passos, suas luzes, seus impulsos regeneradores de rebeldia e ousadia,
sua vocação humanitária, seus ideais de melhoria embalados pela dança da
mudança, aquela que jamais se cansa de avançar, de ensinar e de nos convidar
a encarnar suas coreografias.
Para que novos valores, paradigmas e civilizações floresçam, urge que
reciclemos nossos olhares, revisemos nossas decisões e repensemos nossas
atitudes, antes que até a esperança desista da humanidade – ou pelo menos do
pouco dela que conseguimos reter no decurso de nossas indevassáveis
monstruosidades. Ninguém pode se dar ao luxo de nascer e conviver em
sociedade para não fazer nada pelo bem-estar da coletividade.
Sem os políticos que dizem (retoricamente ou não) nos representar, o
cotidiano seria refém do caos e as relações se rebaixariam a uma disputa
infinita e incontrolável de interesses. No entanto, sem a devida
participação ativa dos cidadãos comuns na formulação, acompanhamento e
fiscalização de suas próprias demandas e aspirações coletivas, a população
civil não passaria de uma massa servil, amorfa, desprovida de consistência
crítica e substância autônoma.
Esse é o tipo de “povo” que as TVs, em geral, buscam forjar: um povo bobo,
tangido pelo medo, identificado globalmente pela negligência local. E o
grande problema é que essa mídia tradicional, conservadora, parcial,
elitista, sensacionalista, entreguista – dogmaticamente privada e sutilmente
golpista – busca nos governar (ou “desgovernar”) a qualquer custo, filtrando
e transmitindo apenas o que lhes convém e deformando o resto.
Não basta simplesmente entrar no ringue das baixarias e competir com a
oposição quem tem mais “denúncias na manga”, quem fede e vacila menos, quem
sai menos mascarado na foto, quem reúne mais pontos em sua biografia. Chega
de dejetos. O Brasil precisa é de projetos que levem seus moradores a
patamares ainda mais sólidos de inclusão social, cuidado ambiental, equidade
econômica, democracia científica e grandeza ética.
De Pablo Robles
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