sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Partidos "clonam" o vice Alencar

O troca-troca partidário efervescente dos últimos dias mostra que há muitos copiando a estratégia que Lula usou em 2002 para mostrar a maioria dos brasileiros de seu amadurecimento em relação aos tempos em que pregava a moratória da dívida e rompimento de contratos. Ao colocar o então senador José Alencar, à época do PR de Minas Gerais, como candidato a vice na sua chapa, Lula passou ao eleitorado a imagem de respeito à legislação e aos compromissos assumidos por seus antecessores, antes mesmo da edição da Carta aos brasileiros, o documento em que o PT elencou sua imagem da economia.
A mesma receita de busca do empresariado é seguida agora pelo PV da senadora Marina Silva (AC), pré-candidata à Presidência da República. Os verdes sabem que dificilmente terão condições de firmar alianças eleitorais fortes, até porque José Serra e Aécio Neves já agregaram ao projeto tucano o DEM e o PPS. Lula trabalha para ter o PMDB. E o PSB de Ciro Gomes negocia com o PCdoB e o PDT, seus companheiros no chamado "bloquinho".
Restam, no rol dos partidos médios, PTB, PP e PR, uma turma que não é bem da praia de Marina Silva e, além disso, já tem outros planos para 2010. O PR tende a fechar com o PT, uma vez que a nova estrela do partido, Anthony Garotinho, planeja abrir seu palanque à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. O PTB, se depender da vontade de seu presidente, Roberto Jefferson, estará com o PSDB. O PP se prepara para o mesmo caminho, até porque Francisco Dornelles (PP-RJ) é primo do governador de Minas.
Com todo mundo já, digamos, comprometido, sobra para o PV agregar valor à própria legenda, em busca de outros setores sociais. Daí, o convite ao presidente da Natura, Guilherme Leal, e ainda, a Roberto Klabin, diretor-executivo da Klabin, e Fernando Simões, do Moinho Brasil, entre outros. Esses empresários nunca tiveram um voto sequer. Levam para o PV a imagem de excelência administrativa, contatos para financiamento da campanha de Marina e a porta do apoio dos verdes ao PSDB num segundo turno, se for PT versus tucanos. Foi uma tacada de mestre.
E o elenco que entrou no PV também sai ganhando, uma vez que leva para os seus empreendimentos a ideia de modernos, preocupados com o desenvolvimento sustentado, o uso racional dos recursos naturais e das riquezas da biodiversidade brasileira. A Natura, por exemplo, tem uma série de projetos na Amazônia.

Ciro e a elite paulista

Na mesma batida do PV, só que, em menor escala, entrou o PSB. Ao receber esta semana o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, o partido que sempre foi visto como um apêndice do PT e sem um braço forte no meio empresarial, começa a ganhar massa muscular no setor. E, com o anúncio ontem da transferência do domicílio eleitoral de Ciro Gomes (PSB-CE) para São Paulo, os políticos estão ansiosos para ver como será a cena: Ciro ao lado de Skaf e, como música de fundo, o eco das gravações antigas em que criticava a "elite paulista". Ora, ora.
O PSB decidiu pela transferência de Ciro porque não quer briga desde já com o PT e muito menos com o Presidente Lula, que teve essa ideia para tirar o PSB do projeto de carreira solo na eleição de 2010 e levá-lo a apoiar Dilma Rousseff. E, ainda que Ciro não concorra ao governo paulista - o que hoje não está decidido - só o fato de estar em São Paulo vai levar o socialista a provocar José Serra. Um detesta o outro. O socialista tem gana de debater com seu ex-colega de partido. E, para dizer que é candidato a presidente, Ciro continuará com a agenda de viagens pelo país. Afinal se Marina Silva chegar a 2010 bombada pelos empresários que ingressaram no PV e eles fizerem a ponte para o PSDB, Lula terá dois contra Dilma. E, nesse cenário, não terá saída senão engolir Ciro como mais um candidato de seu governo na sucessão presidencial para empatar o jogo.Nas Entrelinhas

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