Na conversa com Kennedy Alencar, Lula falou, dentre outras coisas, sobre o mensalão. Disse coisas importantes que este blog já vem dizendo há tempos. Eu elenco abaixo alguns dos argumentos de Lula, misturados à minha própria opinião.
1) Houve confusão entre mensalão e verba para campanha. A tese de que o dinheiro visava comprar apoio dos parlamentares nunca passou de uma tese. Nunca foi provada. É muito mais racional que se tratava de sobras de caixa 2. É crime do mesmo jeito, mas um crime infinitamente menor, comum a todos os partidos. Os que acreditam no mensalão nunca procuraram informar ao povo o mais importante: afinal que raio de leis e projetos eram esses que precisavam ser "comprados". Se houvesse um projeto similar à reeleição de FHC, por exemplo, entenderia-se. Mas comprar deputados da própria base? Ã? 15 mil reais para o professor Luizinho é mensalão? E como o governo poderia controlar os parlamentares se o voto é secreto? O único mensalão realmente provado, com réus confessos, foi o ocorrido na era fernandista, para bancar a emenda da reeleição. FHC, o subperonista, além de comprar a sua reeleição, manteve um câmbio artificial com prejuízo de dezenas de bilhões de reais para o Tesouro, com vistas à sua vitória nas urnas em 1998.
2) Nunca ficou provado o uso de verba pública. Teve aqueles 100 mil da Visanet, mas para provar que foi verba pública, os acusadores tiveram que aceitar argumentos um tanto complicados de que o dinheiro saiu de x, foi para y, chegou em w, passou por g, e chegou em b. O resto foram verbas de empresas privadas. Eu acrescentaria: bem diferente do mensalão tucano, inteiramente com verba de estatais. De qualquer forma, o Visanet envolveu 100 mil e o mensalão ficou em 20 milhões. Se houvesse verba pública, teria sido 1% do mensalão.
3) Segundo apurou o professor Wanderley Guilherme dos Santos, na edição de setembro de 2005, em seu artigo intitulado Fisiologia do Caixa 1, Lula já era, em 2002, o candidato preferido não apenas pelo povo, mas de todos os empresários do país. O Caixa 1 da campanha de Lula superou o de Serra, conforme se pode constatar na tabela abaixo ;

Estes dados são importantes para desconstruir a falsa tese (hoje desmoralizada, embora ainda empunhada por alguns) de que Lula é apoiado apenas por miseráveis que recebem o bolsa família. Lula teve contribuição, bastante equilibrada aliás, de todos os setores nacionais, particularmente os ligados à produção. Serra, por outro lado, teve uma contribuição muito concentrada do setor financeiro, ou seja, dos bancos, interessados que o governo mantivesse a política recessiva e de juros altos que, apesar de quase destruir o país, tão bem fez aos neo-plutocratas de São Paulo. Essa tabela também desmente a tese de que Serra seria um "desenvolvimentista ". Os empresários que apostam em campanha, e creio que eles sabem o que fazem, não acreditaram nessa balela. As forças desenvolvimentistas do país não acreditaram nesse discurso, e Serra teve que buscar recursos entre os monetaristas.
4) Lula falou sobre armação. Marcos Valério, operador do caixa 2 em Minas Gerais em 1998, aproximou-se do PT após o primeiro turno da eleição de 2002. Entre o primeiro e o segundo turno da campanha de 2002, surge Marcos Valério, com dinheiro (hoje se sabe) de Daniel Dantas e uma boca pra lá de mole. Encontrou-se com Delúbio Soares, e outros do PT, e daí negociaram um gordinho caixa 2 de campanha. Lula afirmou que, depois que largar a presidência, irá, por conta própria, investigar o que aconteceu. A mídia sempre levantou a questão principal: de onde veio o dinheiro do mensalão? Depois que a PF descobriu que a maior parte dos recursos vieram de empresas controladas pelo banqueiro Daniel Dantas, estranhamente, a curiosidade midiática desapareceu. Eu me permito, assim como Lula, alimentar uma tese. Houve uma armação contra o governo, e o responsável foi Daniel Dantas. O objetivo era chantagear o governo para manter o controle sobre os fundos de pensão. Quando ele viu que o governo não iria ceder, e que iniciou uma batalha, justa e necessária, para tirar os fundos de suas mãos ávidas, ele deflagrou o golpe. O PT errou, claro, ao cair da armadilha, porque é um partido rico em aloprados babacas, vide 2006, quando um punhado deles tentou comprar um dossiê contra Serra. A articulação de um golpe desse jaez, porém, denota um imenso desprezo pelas instituições brasileiras e, se for verdade, merece, no mínimo, ser totalmente esclarecida e exposta à sociedade, para que nada semelhante volte a acontecer no futuro.
Mas tudo pode ser paranóia, não? Quem viver, verá. Não boto a mão no fogo por ninguém, mas se Ali Kamel, diretor de jornalismo da TV Globo, pode "testar hipóteses", eu tenho o direito de especular, não tenho?
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