domingo, 1 de novembro de 2009

Tucanos usam atividade da USP como palanque

No dia 29 de outubro, a Pró-Reitoria de Pesquisa da USP convocou todos os professores orientadores e alunos bolsistas para uma apresentação dos trabalhos do Programa de Pré-Iniciação Científica, a ser realizado no Centro de Convenções Rebouças. O Programa de Pré-Iniciação Científica foi uma iniciativa da USP e tinha como objetivo desenvolver atividades de científicas com alunos da rede estadual de ensino médio, previamente selecionados, sob a orientação de professores da universidade que, para isto, deveriam apresentar projetos de pesquisa.
Por achar interessante esta parceria da universidade com o ensino público, Dennis de Oliveira, que me mandou esse post, diz que apresentou um projeto de monitoramento de periódicos alternativos no Brasil, dentro da idéia que desenvolve na universidade de construir um método de recepção crítica e cidadão dos meios de comunicação. Foi contemplado com três bolsistas, todos alunos de uma escola pública de Cotia. Ficou sabendo depois do valor ridículo da bolsa, R$ 70,00 e também que os bolsistas não teriam direito a uma cota de passe escolar, o que fazia com que praticamente toda a bolsa (ou mais) fosse consumido pelos gastos com transporte.
Também ficou sabendo que o programa era bancado por duas multinacionais, o Banco Santander e a Monsanto, a fabricante de transgênicos, empresa que a atual pró-reitora Mayana Zatz tem fortes ligações. E, finalmente, também soube depois que os alunos deveriam contar com um professor supervisor na escola de origem e que estes professores não receberam um centavo da Secretaria da Educação para tal tarefa, nem treinamento que estabelecesse qual é o seu papel.
Apesar de tudo isto, tocou a proposta. Os alunos eram fantásticos, desenvolveram as atividades da pesquisa de forma competente, mesmo com as dificuldades de deslocamento (demoravam até duas horas da escola em Cotia para a USP), o professor supervisor também era uma pessoa interessante, apesar de estar confuso pela total ausência de definição do seu papel. No final, chegamos a resultados importantes que mapeiam o processo de construção das informações de quatro periódicos alternativos no Brasil – o jornal Brasil de Fato e as revistas Fórum, Caros Amigos e Le Monde Diplomatique, isto após fazermos uma série de discussões sobre os filtros que atuam na produção da notícia, demonstrando que a mídia jornalística hegemônica atua como “um aparelho de propaganda” como define o pensador Noam Chomsky.
O que aconteceu no dia 29 de outubro? Um grande ato do PSDB. Pela manhã, lá esteve para se deixar fotografar e distribuir risos e abraços, o secretário Geraldo Alckmin – não ficou claro o papel dele como agente público neste programa. Depois, o secretário da educação, Paulo Renato, que não explicou o porquê da sua secretaria não ter feito absolutamente nada em termos de apoio a este programa. E, no final, não poderia de deixar de aparecer o governador-candidato José Serra que, junto com a pró-reitora, distribuiu a premiação aos dois melhores trabalhos de cada área. Prêmio: um laptop para cada equipe vencedora (detalhe: as equipes tinham até oito alunos bolsistas – como eles iriam dividir UM laptop não ficou claro!) e uma assinatura anual da revista da Fapesp para a escola do grupo vencedor (detalhe: esta revista está disponível na internet e é publicada por uma fundação vinculada ao próprio governo estadual). Só faltou dar como prêmio o sinal da TV Cultura por um ano...
A hipocrisia tucana não teve limites desta vez. Quase 16 anos de governos tucanos que praticamente arrasaram a educação pública estadual, salários dos professores achatados, total desprezo por este programa que foi praticamente bancado por empresas, sem qualquer preocupação em dar suporte a alunos e professores da rede para que ele reverberasse no ensino público e, no final, comparecem à festa!!! Um uso e abuso da boa vontade de professores e de alunos da escola pública que, com seu talento e capacidade, tentam furar o bloqueio imposto pelas péssimas condições do ensino público paulista.

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