quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Uma semana após terremoto no Haiti, população tenta fugir da capital



Os prognósticos para os que vivem em Porto Príncipe, uma semana após o terremoto que devastou a cidade, são bastante preocupantes. Alimentos e artigos médicos começam a chegar a vários locais nesta terça-feira, mas casos de tétano e gangrena se multiplicam, e médicos afirmam que aumentam os riscos de a população enfrentar epidemias como as de sarampo, meningite e outras infecções. Além disto, os saques e a atuação de gangues se alastram pela capital do país caribenho, e os moradores, sentindo-se acuados pela violência e pelo risco de doenças, estão partindo para outras cidades no Haiti.

O desespero após o terremoto que devastou o Haiti chegou na segunda-feira ao porto de Jeremie, capital do departamento haitiano de Grand'Anse. O caos e a destruição em Porto Príncipe geraram uma onda de fuga em pequenos e precários barcos com destino à região. Para milhares de haitianos, o empobrecido porto tem o novo significado de esperança e fuga dos resultados da tragédia.

- A nossa casa foi destruída - disse ao "New York Times" a verdureira Yanique Verly, de 33 anos. Ela esperava um pequeno barco para levá-la com seus três filhos para outra casa na costa oeste. - A minha única esperança é voltar aos braços de minha família.

Yanique se juntou a milhares de pessoas, que na segunda-feira tentavam fugir de barco, ônibus, carro ou caminhão, para conseguir um abrigo com comida, água e estabilidade.



De acordo com a reportagem, não há certeza de nada no Haiti. As autoridades não conseguem nem estimar o número de mortos. Alain Le Roy, chefe da missão de paz da ONU, disse que não poderia confirmar a estimativa de 200 mil mortos. Ela afirmou que havia cerca de 50 mil mortes confirmadas.

- Para ser franco, acho que ninguém sabe - disse ele nos Estados Unidos.

A única evidência, no entanto, é a necessidade de fugir. Dezenas de ônibus faziam filas e aguardavam nos postos de gasolina de diversas partes de Porto Príncipe, na tentativa de conseguir combustível para a viagem ao interior do país. Algumas pessoas carregavam bagagens lotadas e outras, poucos pertences para não gastar mais do que podem.

Em um posto de gasolina, os nomes dos ônibus pintados nas laterais dos veículos tinham um significado real: Christ Est La Response (Cristo é a Resposta); Courage Mon Frere (Coragem meu Irmão).

- Acho que não vou voltar para cá - disse Marcelaine Calixte, de 20 anos. A casa e universidade da estudante foram abaixo durante o terremoto. A jovem resolveu seguir para Aux Cayes, uma cidade ao sul do país.

De acordo com o comandante da Guarda Costeira americana, nenhuma embarcação com refugiados foi vista na segunda-feira.

- Nenhuma, zero - disse ele ao ser questionado sobre a fuga dos haitianos pelo mar. Segundo ele, é muito improvável que haitianos estejam tentado deixar a ilha em pequenas lanchas e, caso sejam pegos seguindo para a Flórida, serão levados de volta ao Haiti.

Mas, para cada pessoa que encontrou uma opção de abrigo ou comida fora da capital, muitos continuam na extrema miséria.

- Eu gostaria que a minha família escapasse dessa cidade, mas preciso de remédios para aliviar as dores da minha filha - disse o encanador de 28 anos Manuel Lamy. Sua filha de 5 anos perdeu a mão esquerda durante o terremoto e foi levada para um centro de triagem organizado por médicos cubanos.

Milhares de cidadãos americanos, incluindo haitiano-americanos, foram ao aeroporto nos últimos dias para deixar a ilha em aviões do Exército dos Estados Unidos. O terminal de ônibus está mais lotado do que nunca, de acordo com Dieumetra Sainmerita, que administra o tráfego.

Ele disse que o preço da passagem para o ônibus que faz o trajeto da costa subiu em 20% desde a semana passada. Muitos vendem o que tem para conseguir comprar um bilhete.



- Primeiro eu via pessoas que perderam as suas casas - afirmou Sainmerita. - Depois, pessoas que perderam parentes. Agora, vejo pessoas que estão com medo de outros roubarem seus pertences durante a madrugada.

Assaltantes também rondam as estações de ônibus. Marceson Romen disse que dois homens tentaram roubar sua mala, mas fugiram quando viram a polícia. Romen seguia para Artibone, região haitiana onde nasceu.

De O Globo

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