O líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) João Pedro Stedile criticou na quinta-feira, 28, a ação da Polícia Civil de São Paulo na prisão de nove pessoas ligadas ao MST.
Disse: "ocupar terra pública não é crime" e prometeu uma campanha de denúncia contra a Cutrale (a empresa fabricante de suco de laranja ocupa terras cujas escrituras estão em nome União, que foram também ocupadas pelo MST em protesto, o que originou a perseguição policial e nove presos).
"Vamos mobilizar nossos amigos em todo o mundo", afirmou, dizendo que a campanha começaria no Fórum Social Mundial (FSM), onde participou de seminário.
"Vamos aproveitar o fórum para denunciar a forma como a Cutrale produz esse suco, que depois ela entrega para a Coca-Cola", declarou, em entrevista após o seminário no FSM.
Globo oculta do noticiário "Operação Fanta" da Polícia Federal envolvendo a Cutrale
A TV Globo usa dois pesos e duas medidas: faz matérias diariamente sobre as prisões do MST, mas não deu atenção para os resultados da Operação Fanta, da Polícia Federal, que tem provas de que a Cutrale e outras empresas formaram um cartel e passaram a definir preços e datas de compra de laranja de produtores, desrespeitando as regras do mercado. Também omite os processos do INCRA para retormar as terras da União, ocupadas pela Cutrale.
Polícia política de José Serra
O líder do MST acrescentou que "a Polícia Civil de São Paulo está exagerando por motivação política", uma vez que demo-tucanos, capitaneados por José Serra (PSDB/SP), adotam a política de perseguir e criminalizar o MST.
Lembrou que a ação "aproveitou o calendário político", para dar munição à CPI do MST, no momento em que o Congresso volta do recesso em fevereiro.
PIG difama MST para justificar repressão
João Pedro avalia também que os meios de comunicação atuam para “criar uma influência na opinião pública para justificar a repressão”. Um exemplo é a cobertura sensacionalista da prisão de nove trabalhadores rurais ligados ao MST na região onde foi realizado um protesto contra grilagem de terras pela transnacional Cutrale, e sem ouvir o outro lado.
Com eleição de Lula, direita passou usar o Judiciário, Legislativo e Imprensa como arma de luta política
Stedile, acredita que as forças de direita passaram a utilizar com mais intensidade os instrumentos que têm maior controle, depois da eleição do presidente Lula. Para ele, os principais instrumentos da direita são o Poder Judiciário, o Poder Legislativo e os meios de comunicação de massa. “Querem criminalizar toda a luta social”, afirma.
“O presidente do STF [Gilmar Mendes] é o porta-voz do comitê central da direita brasileira”, disse João Pedro. Por isso, Mendes entra no cenário político para dar opiniões consideradas anti-populares fora dos autos sobre uma série de temas.
Jurista critica polícias a serviço de grandes empresas
O jurista Jacques Távora Alfonsin, procurador do Estado do Rio Grande do Sul aposentado, denunciou que o processo de criminalização se sustenta em um tripé inconstitucional, formado por vigilância, controle e correção. Segundo ele, as polícias e as grandes empresas andam de mãos dadas no processo de perseguição dos militantes sociais. “Nunca houve neste país uma ligação tão íntima entre o aparelho policial e o poder econômico”, afirmou.
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