Está cada vez mais patético o discurso da oposição. Depois de dizer que as camisinhas chinesas fedem "à pena de galinha fervida" e comentar que “o chinês deve gostar, no momento apropriado, do cheiro de galinha”, José Serra acusou o governo boliviano de ser cúmplice do tráfico de cocaína para o Brasil
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O comentário de Serra sobre a Bolívia pode ser ouvido em www.tijilaco.com/?p=15965.
Poderíamos até ignorar tais declarações se elas não tivessem partido de um homem que pretende ser o nosso presidente. Num momento em que a diplomacia brasileira tem colocado o País em lugar de destaque na política internacional, a vitória de Serra significaria um gritante retrocesso. Como bem observou o deputado Brizola Neto, a ideia que os tucanos têm de diplomacia não é mais sofisticada que as do Capitão Nascimento, do filme Tropa de Elite.
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Não é difícil prever que, uma vez na presidência, Serra irá abalar rapidamente as relações de cooperação e solidariedade que construímos com os países vizinhos, jogando nossos esforços diplomáticos na lata de lixo. Com Serra, o Brasil perderia a capacidade de mediar conflitos e passaria a gerá-los, abrindo novamente espaço para o clima de insegurança que sempre manchou o nosso continente.
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Pior papel fez o senador Álvaro Dias, ao comprar a briga de seu candidato: acusou Lula de estimular o uso de drogas pelo fato de ter se deixado fotografar, ao lado de Evo Morales, com um colar indígena feito com folhas de coca. O pensamento arcaico, obtuso e ignorante do senador tucano desconsidera que mascar a folha de coca é uma tradição milenar dos povos pré-colombianos. A folha de coca (e não a cocaína!) é um símbolo da identidade cultural dos indígenas que habitam a região dos Andes e é usada, principalmente, na infusão dos chás que rebatem o frio das grandes altitudes.
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Mas a virulência da direita não conhece limites e o senador Eduardo Azeredo, o mesmo que já quis censurar a internet, cobrou uma “posição mais dura” do governo brasileiro em relação ao boliviano. Da mesma forma, o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, afirmou que “a Bolívia não é um país sério”. Se dependesse deles, estaríamos em guerra com o país vizinho, nação amiga e pacífica.
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Não fica difícil perceber que estarão em jogo, nestas eleições, dois projetos de governo não apenas distintos, mas radicalmente opostos. São duas visões de mundo conflitantes e antagônicas: uma conservadora e autoritária; outra progressista e solidária. Uma servil e atrelada ao Consenso de Washington; outra, soberana e diplomática. Uma elitista, outra popular. Dilma Rousseff encarna a visão de mundo que o povo brasileiro saberá reconhecer como sua:
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“Não é possível, de forma atabalhoada, a gente sair dizendo que um governo é isso ou aquilo. Não se faz isso em relações internacionais. Este não é o papel de um estadista ou de quem quer ser estadista. Não acho que este tipo de padrão, em que você sai acusando outro governo, seja uma coisa construtiva. Temos que ter cautela, prudência e saber que são relações delicadas, que envolvem soberanias. Mesmo sendo [a Bolívia] um país pequeno, e por ser um país pequeno, a delicadeza tem que ser maior”
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Vejam a declaração na íntegra:
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PS: Que o vídeo acima sirva de exemplo aos militantes da esquerda radical. Quando vocês dizem que Serra e Dilma são a mesma coisa e que tanto faz a vitória de um como de outro, deveriam, no mínimo, pensar na irresponsabilidade da falta de visão histórica que têm demonstrado.
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PS2: Não deixem de ler também a Carta Aberta aos Organizadores do Comida di Buteco, que Eduardo Goldenberg publicou em seu Buteco do Edu.
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PS3: Hoje, sexta-feira, comemora três anos a roda do Anhangüera dá Samba, ideia inicial de meu mano Arthur Tirone, o Favela, de unir duas das maiores instituições brasileiras: o clube de várzea e o samba. O convidado é mestre Nei Lopes. E a iniciativa rendeu até uma matéria na Carta Capital. Parabéns a todos os envolvidos, à rapaziada do Inimigos do Batente e aos que continuam mantendo acesa a chama da cultura popular mais generosa e verdadeira.
De Bruno Ribeiro
segunda-feira, 31 de maio de 2010
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