quarta-feira, 26 de maio de 2010

PMDB pró-Serra aconselha Temer a evitar ‘retaliação’


A 22 dias da convenção que formalizará sua indicação para vice na chapa de Dilma Rousseff, Michel Temer trava com os dissidentes do PMDB um cabo-de-guerra.

Presidente da legenda, Temer tenta impedir que os diretórios estaduais sublevados façam campanha para o presidenciável tucano José Serra.

Foi avisado de que, se esticar a corda, pode eletrificar a convenção nacional. Algo que tisnaria e, no limite, até ameaçaria sua assunção à vice de Dilma.

O primeiro aviso veio do Mato Grosso do Sul. Ali, o governador pemedebê André Puccinelli disputa a reeleição contra José Orcírio dos Santos, o Zeca do PT.

A disputa local empurrou Puccinelli para uma aliança com o PSDB de Serra. A despeito disso, o governador não cogitava criar problemas para Temer.

Na última terça (18), o deputado Waldemir Moka (PMDB-MS), avisou a Temer que os ventos podem soprar noutra direção.

Candidato ao Senado na chapa de Puccinelli, Moka disse a Temer que as ameaças de retaliação podem convulsionar a convenção do PMDB federal.

Reclamou de uma consulta que o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) encaminhara ao TSE, em combinação com Temer.

Tenta-se arrancar do tribunal uma resposta que ratifique o entendimento de que o princípio da fidelidade partidária desautoriza a infidelidade na campanha.

Dito de outro modo: para o PMDB federal, seus diretórios podem até se coligar com partidos de oposição nos Estados. Mas não podem fazer a campanha de Serra.

Significa dizer que os insurretos estariam proibidos de levar o nome de Serra ao horário de rádio e TV do partido.

Tampouco poderiam mencioná-lo nas publicações de campanha. A propaganda eletrônica e impressa teria de prestigiar a chapa nacional: Dilma-Temer.

Os principais alvos de Temer são Orestes Quércia (São Paulo) e Jarbas Vasconcelos (Pernambuco) . Mas a ameaça de reação contamina outros Estados.

Moka insinuou que, se levar adiante a exigência de fidelidade, Temer pode atrair a ira de pelo menos cinco Estados.

Além de São Paulo, Pernambuco e Mato Grosso do Sul, já fechados com Serra, flertam com o tucanato os PMDBs de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Todos esses Estados enviam delegados com direito a voto na convenção que sagrará Temer como candidato a vice da presidenciável petista.

A maioria se inclinava para a neutralidade. Porém, confirmando- se a punição por infidelidade estadual, a neutralidade daria lugar à animosidade.

Estão em jogo na convenção 803 votos. O grupo de Temer estima que dispõe de maioria de pelo menos cem votos.

Uma eventual rebelião do grupo pró-Serra poderia, no mínimo, conspurcar essa maioria, tornando-a mixuruca. Algo que seria constrangedor para Temer.

As apreensões de Moka chegaram a Temer no dia em que o PMDB reuniu, em Brasília, sua Executiva nacional.

Temer chegara a cogitar a edição de uma resolução impondo desde logo a fidelidade, sob pena de intervenção nos diretórios. Desistiu.

Até a noite da véspera, Temer ainda considerava a hipótese de submeter à Executiva não uma resolução, mas uma recomendação de fidelidade. Desistiu também.

Optou-se por aguardar a resposta do TSE à consulta do partido. Se for afirmativa, vai-se alegar que a fidelidade é um imperativo judicial.

Em diálogo reservado, Geddel Vieira Lima, amigo de Temer e candidato pemedebê ao governo da Bahia, reforçou as preocupações do deputado Moka.

Embora favorável à fidelidade, Geddel receia que, a pretexto de reagir a Quércia, Temer acabe por incendiar os dissidentes que lhe são neutros.

Por ora, Temer parece fazer ouvidos moucos para os riscos. Diz algo assim: “O TSE fixou a tese da fidelidade partidária, depois ratificada pelo STF...”

“...Ficou estabelecido que o mandato não é do parlamentar, mas do partido. Se sair da legenda, pode até perder mandato. Perguntamos ao TSE o seguinte: essa fidelidade permite uma infidelidade durante a campanha?...”

“...Se o Quércia faz uma aliança com Geraldo Alckmin [PSDB], tudo bem, a lei permite. Mas ele poderá fazer a campanha do Serra se o partido tem um candidato na chapa nacional? Me parece que não”.

De Josias de Souza

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