quinta-feira, 20 de maio de 2010

OS MEDÍOCRES MENOS INFLUENTES DO MUNDO

A última vez que contei, o mundo tinha aí por volta de 119 países, cada qual com suas lideranças políticas e institucionais mais ou menos influentes na região continental onde se estabelecem. De lá pra cá, algumas dessas nações se fundiram e outras se subdividiram dando origem a novos países que terão mais ou menos influência na região a que pertencem ou no mundo. Ou não terão praticamente influência alguma, nem mesmo entre seus vizinhos.

O Brasil, por exemplo, embora faça fronteira com praticamente todos os países do continente, à exceção de Chile e Equador, ao longo do século XX exerceu uma influência quase que exclusivamente cultural, por causa do samba, da mulata e do futebol.

Politicamente éramos tão frágeis quanto economicamente. Ao invés de influirmos, sempre fomos os influenciados, como no episódio da crise do México e, depois, pela da Argentina, ambos, há até 8 anos atrás os mais influentes países da América Latina.

Não se pode dizer que Argentina e México tenham sido influentes exatamente por suas lideranças políticas. O foram, muito mais, pelas condições econômicas e produtivas.

Num mundo de relações capitalistas, a produtividade de um país é muito importante na construção de sua liderança regional ou mundial. Sabendo disso, Stálin e Mao Tsé Tung trataram de revisar os conceitos socialistas e apostaram na produtividade a todo custo, inclusive de sacrifícios das sociedades russas e chinesas. Dessa forma, além de poderosos exércitos, constituíram nações economicamente ricas, ainda que o sistema comunista pelo qual se dissessem orientar se tornasse socialmente duvidoso e discutível.

Mas não foi apenas por puxar as barbas do velho Marx que Rússia e China se constituíram em grandes influências política e econômica da Europa e da Ásia. Sem dúvida, as proporções continentais desses países também contribuíram bastante, afinal, diversas outras nações que adotaram o modelo do controle estatal de produtividade acelerada em detrimento da sobrevivência e da evolução social, nunca conquistaram tamanha influência. Foram países bastante menores e sem condições de diversificar a produtividade por mais autoritárias fossem as exigências estatais.

Dois outros países, de capitalismo privado, também se tornaram dos mais influentes em todo o mundo, muito em razão de suas extensões territoriais: Canadá e Estados Unidos.

Depois desses 4 maiores países do mundo, vem o Brasil que é menor do que os Estados Unidos em cerca de 1 milhão de kms2, e, em seguida, a Austrália, por sua vez pouco menos de 1 milhão de kms2 menor que o Brasil.

A sétima maior extensão nacional do mundo é a Índia, e na Austrália cabem 2 Índias. Por fim, o oitavo país do mundo em tamanho é a nossa vizinha Argentina cuja área territorial corresponde a ¼ do território brasileiro.

Ora, se são precisas 4 Argentinas para fazer um país do tamanho do Brasil e, ao longo de todo o século XX, aquela foi a nação mais importante e influente do continente sul-americano, seria de se concluir que entre as nações isso de tamanho não é documento.

De fato, países pequenos como o Japão, um arquipélago que somando a área de todas suas ilhas talvez não chegue sequer à extensão da Ilha do Marajó, muitas vezes influenciam mais do que nações bem maiores. Mas também é verdade que das 6 maiores nações do planeta, apenas uma nunca foi influente sequer dentro de si mesma.

Sabemos que o Canadá, ainda que maior do que os Estados Unidos, nunca atingiu a pujança econômica do vizinho; mas tampouco foi um país social e economicamente subalterno, mesmo quando colônia do Império Britânico. Os canadenses sempre se mantiveram orgulhosos de suas origens e suas histórias, distinguindo- se e reafirmando- se como Canadá Francês e Canadá Britânico.

E a independência econômica, cultural e tecnológica de todo o Canadá se dá a despeito de sua exígua área produtiva. Condições climáticas glaciares o tornam um dos países de menor população do mundo, apesar de uma extensão territorial menor apenas do que a da Rússia. Essa, por sua vez, apesar de ocupar quase metade da Europa e 1/3 da Ásia, em apenas 18% de seu território é atendida por recursos hidrográficos e ¾ de sua extensão compreende a região mais fria do planeta depois dos círculos polares: a Sibéria.

O mesmo se pode dizer da Austrália, que é coberta de dunas de areia em 40% de seu território.

Apesar de ser o país mais populoso do mundo e terceiro em extensão territorial, a maior parte da China também é totalmente árida, contendo 2 dos maiores desertos do mundo: o Taklamakan e o Deserto de Gobi. Gobi possui quase a mesma extensão do maior estado do Brasil: o Amazonas.

Ludibriados pelo tzar russo, em 1867 os Estados Unidos compraram o Alasca acreditando que dali tiraria mais ouro do que o levado por Portugal das Minas Gerais. Durou pouco e hoje têm ali o maior estado do país, de onde ainda exploram recursos minerais, mas sem condições de qualquer outra produtividade mais significativa.

De toda forma, tirante o Brasil, climaticamente os Estados Unidos é o mais privilegiado entre os 6 gigantes do mundo, apesar da ampla região desértica que se estende por todo o centro-oeste do sul do país.

No entanto, a exceção que confirma a regra de soberania e influência das maiores nações do mundo, não possui sequer um deserto ou região inóspita. Quando muito, uma pequena porção semiárida além da zona da mata de seu nordeste, mas ainda assim propícia ao desenvolvimento de lavoura e pecuária. Atividades precárias nos períodos de estiagem prolongada, mas bastante peculiares e valorizadas no mercado regional.

A região de mais dificultoso acesso dessa exceção entre as 6 maiores nações em território, concentra a maior riqueza em biodiversidade do planeta e contem a maior reserva hidrográfica da Terra. Além desta, ao sul o país é beneficiado pela segunda maior bacia hidrográfica do mundo, tornando suas terras férteis em toda a extensão norte-sul e leste-oeste, e de fácil desenvolvimento agropecuário pela ausência de cadeias montanhosas.

A localização deste país-continente no hemisfério sul e sua formação longitudinal o tornam o mais favorecido pelo processo de fotossíntese entre todas as nações da Terra, das quais somente o Canadá e os Estados Unidos rivalizam em extensão de costa atlântica.

Afora os amplos potenciais para produção de energia em praticamente todas as fontes fósseis ou renováveis, o país ainda detém uma das mais diversificadas fontes minerais, inclusive dois dos maiores aquíferos subterrâneos do mundo.

As desculpas utilizadas para explicar a situação de subserviência e subjugação político-econô mica deste 5º maior país do mundo, após sua independência, são insustentáveis. Uma delas, a mais preconceituosa, baseia-se no histórico de sua formação humana, como país de degredados em seu período colonial. Desde 1.770 a Austrália se tornou o destino dos degredados de todo o vasto Império Britânico.

O exemplo australiano também serve para desarticular outra desculpa esfarrapada que aponta o Brasil como uma nação muito jovem, por ter se tornado independente quase um lustro após seu correspondente em território: os Estados Unidos. A Austrália se tornou independente do Império Britânico em 1942.

Evidentemente há que se procurar em outras causas a razão de o Brasil ser a única das 6 maiores nações do mundo onde os índices humanos foram os mais baixos durante todo o século XX: maior mortalidade infantil, maior subnutrição, maior mortalidade por doenças infectocontagiosas, maior violência social nos meios urbanos, maior índice de analfabetismo, pior índice de aproveitamento escolar, maior índice de natimortos, maior número de desempregados, maior incidência de atividades informais, etc., etc., etc.

Para qualquer observador, nacional ou estrangeiro, minimamente honesto, era gritante a evidência de que um país com o tamanho e os potenciais do Brasil, só poderia apresentar tão desastrosos resultados devido a inapetência de seus administradores e a dilapidação de seus potenciais por dirigentes que vendiam o país aos interesses estrangeiros.

Sim. Aqui, outra desculpa apresentada para o atraso social do Brasil: o imperialismo dos capitalistas estrangeiros. Oras! Capitalistas de qualquer lugar do mundo exploram a qualquer país de dirigentes corruptos que se proponham a vender seus potenciais energéticos, prostituir seu povo, entregar sua capacidade produtiva para a exploração internacional, tal qual foi realizado pelas elites dirigentes do Brasil desde o início de nossa colonização por Portugal, até 2002, como um intervalo de 34 anos entre 1930 e 1964, num raro e breve período nacionalista.

Antes e depois desse período o Brasil sempre foi considerado mais uma República das Bananas, com alguma influência, talvez, sobre a economia paraguaia e boliviana, mas sem qualquer condição de concorrer com a Argentina mesmo nesses ou quaisquer outros mercados internacionais.

Os valores de nossos produtos de exportação, em grande maioria matéria prima sem qualquer beneficiamento, eram estabelecidos pelos compradores que se concentravam basicamente em um único país: os Estados Unidos.

Não tínhamos voz em qualquer organismo ou instituição internacional, em qual idioma fosse. Nossa opinião não era sequer questionada e se alguma se fizesse necessária a respeito de nossa região, não seria ao Brasil que se perguntaria e, sim, à Buenos Aires.

Éramos nada! Tão nada que nosso chanceler, o representante do Brasil perante o mundo, era tratado como suspeito nos aeroportos dos Estados Unidos, onde tinha de tirar os sapatos para ser revistado; uma afronta diplomática a qualquer governo aliado, demonstrando claramente que ninguém era aliado ao governo brasileiro ou este não era aliado a nenhum outro. Era apenas subserviente ao primeiro que lhe oferecesse mais dinheiro para manter a situação de miséria social que aumentava ainda mais nosso descrédito internacional. Éramos considerados um dos menos indicados países do mundo para qualquer outra coisa que não fosse o turismo sexual e a montagem de negociatas e trambiques de espoliação de nossos recursos e do nosso povo.

E assim, quem definia as metas, tarefas e ações daqueles governos, eram os credores. Elegíamos quem nos governaria para o FMI, para o Clube de Paris, para os interesses multinacionais.

Oito anos depois dessa crônica e secular situação de abjeta subserviência, uma publicação estadunidense aponta 25 lideranças políticas que considera as mais influentes do mundo. Há de tudo na lista: desde o presidente dos Estados Unidos que, por razões óbvias, seja quem for haverá mesmo de ser influente não por sua pessoa, mas pelo império bélico e a amplitude do mercado que governa; até uma das principais responsáveis pela derrota do partido então governista, nas últimas eleições daquele país.

Seja por qual razão for, o presidente do Brasil encabeça a lista. Deduz-se que provavelmente porque os selecionadores das 25 personalidades políticas de maior influência mundial, entenderem que Lula é o mais influente líder entre os demais apontados. A dedução é corroborada pelo texto de abertura da matéria, redigido pelo mais prestigiado jornalista norte-americano, Michael Moore, recordando, em seu texto, de como a tradicional elite político/econô mica brasileira manteve uma das mais injustas e criminosas concentrações de renda do mundo, uma tradição rompida pela eleição de Lula à presidência do Brasil, apontando-o como um exemplo de governo para o próprio Estados Unidos.

Mas em verdade pouco importa se aqueles que selecionaram os 25 mais influentes líderes do mundo, consideram Lula como o mais de todos, ou o 18º ou 25º. Afinal, nunca, jamais antes ocorreria a qualquer instituição de nenhum continente, considerar um político brasileiro como alguma coisa. Brasileiro influente foi o Pelé, os Ronaldinhos. Tom Jobim por “The Girl From Ipanema” e, décadas antes, a Carmem Miranda.

Falar em presidente brasileiro era o mesmo que falar sobre nada. O mesmo que falar jornaleiro da Espanha, confeiteiro da Noruega ou encanador do Nepal. Algo como o mesmo significado e importância de escrever aqui o nome do presidente do Buzequistão, mesmo que esse país exista.

Quantas pessoas, em quaisquer dos países que nos são fronteiriços, alguma vez teve conhecimento de quem fosse o presidente do Brasil?

Apesar disso, não é que os maiores veículos de comunicação do próprio Brasil se esforçaram em informar que o Presidente Lula só encabeçou aquela lista por acaso? E não é que alguns dos meus correspondentes demotucanos caprichosamente me enviaram reproduções dos textos originados por este esforço?

Eu deveria rir do ridículo, ou me apiedar da mediocridade?

Sinceramente, não sei. Até porque, como disse um amigo -- que por sinal não é brasileiro -- tratar uma atitude dessas como medíocre é agravar o sentido da palavra.

Também não sei se Lula é realmente o líder mais influente do mundo. Mas, sem querer ofender a média da mediocridade, posso dizer que sei quem são alguns dos menos influentes medíocres do mundo.

De Raul Longo

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