O ministro de Relações Exteriores da Turquia, Ahmet Davutoglu, disse neste domingo que foi alcançado um acordo entre Irã, Turquia e Brasil sobre a troca de combustíveis nucleares, decisão que pode por fim à disputa com o Ocidente sobre o programa nuclear do Irã. Quando questionado por jornalistas em Teerã se haveria um acordo sobre a troca de combustível, ele respondeu: "Sim, isso foi alcançado após quase 18 horas de negociações".
Segundo o chanceler turco, o anúncio oficial pode ser feito na segunda-feira pela manhã, após revisão pelos presidentes brasileiro e iraniano e o primeiro-ministro turco, que chegou à capital iraniana neste domingo.
Os presidentes brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, falaram neste domingo em entrevista coletiva sobre o interesse de incrementar as relações comerciais entre seus países. Porém, eles não tocaram na questão nuclear, ponto central do encontro, como já havia acontecido mais cedo, na nota oficial divulgada no site do governo iraniano.
Os EUA e alguns de seus aliados acusam o Irã de desenvolver um programa nuclear com fins militares, mas Teerã defende que a finalidade é pacífica e se recusa a negociar. Os EUA pressionam por uma quarta rodada de sanções do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) contra o país do Oriente Médio.
Segundo o site da TV iraniana Alallam, os chanceleres de Irã, Turquia e Brasil mantiveram um encontro trilateral neste domingo para discutir, entre outros assuntos, a troca de urânio iraniano.
O porta-voz da chancelaria iraniana, Ramin Mehmanparast, tinha dito que Teerã chegou a um acordo sobre a quantidade de urânio a ser trocada e a modalidade da troca --simultaneamente ou em lotes--, informa a Alallam. "Há um acordo sobre o momento e o volume de combustível a ser trocado", disse ele. "Mas ainda falta decidir o local e, se houver garantias concretas, o Irã está disposto a negociar."
Proposta
A proposta de Brasil e Turquia era pressionar os líderes iranianos a rever uma proposta sob a qual o Irã enviaria urânio baixamente enriquecido a outro país e, em retorno, receberia urânio altamente enriquecido -- um plano que fracassou em outubro do ano passado.
Um acordo apresentado pela ONU em outubro oferecia ao Irã que enviasse 1.200 quilos de urânio de baixo enriquecimento --o suficiente para a fabricação de uma bomba se enriquecido no patamar necessário-- para a França e para a Rússia, onde seria convertido em combustível para um reator de pesquisas em Teerã.
O Irã afirmou na época que só trocaria o seu material por urânio em níveis maiores de enriquecimento e somente no seu próprio território, condições que as outras partes envolvidas no acordo consideraram inaceitáveis.
O acordo foi interrompido na época. O Brasil e a Turquia, ambos membros não permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), ofereceram-se para mediar as negociações e tentar convencer o Irã a rever a oferta.
Os Estados Unidos e países aliados estão em negociação para impor uma quarta rodada de sanções da ONU ao Irã. Washington acusa Teerã de tentar ganhar tempo ao aceitar a proposta de mediação de Lula.
O Brasil já apresentou uma proposta segundo a qual o Irã trocaria urânio pouco enriquecido por combustível nuclear na Turquia, país que tem estreitos laços tanto com Ocidente como com o Oriente Médio. O Irã enviaria urânio ao exterior e o receberia de volta enriquecido a 20%, nível suficiente para fins pacíficos.
Segundo a imprensa iraniana, Ahmadinejad tinha dito que aceitava "em princípio" a proposta de Lula durante uma conversa telefônica com o líder venezuelano, Hugo Chávez.
Viagem surpresa
O primeiro-ministro da Turquia, Tayyip Erdogan viajou a Teerã neste domingo para se reunir com o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e com o líder iraniano, Mahmoud Ahmadinejad.
"Estou indo ao Irã porque uma cláusula será acrescentada ao acordo que diz que a troca será feita na Turquia", disse o premiê. "Teremos a oportunidade de começar o processo em relação à troca", disse Erdogan. "Eu garanto que encontraremos a oportunidade para superar esses problemas, se Deus quiser."
Roda de apostas
Durante visita oficial à Rússia, em entrevista concedida no Kremlin, Lula disse que há 99% de chances conquistar um acordo com o Irã durante sua passagem pelo país. Ao seu lado, o presidente russo, Dmitri Medvedev, não foi tão otimista: afirmou que as chances são de 30%.
"Se não chegarmos a um acordo, volto para casa feliz, porque ao menos não fui negligente", disse o presidente.
Considerado um carismático negociador, Lula conta com o apoio da França, Turquia e da Rússia, ainda que comedido, mas os EUA já advertiram que o Irã não leva o encontro a "sério".
Para a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, Lula enfrenta uma "montanha a ser escalada" para tentar persuadir o Irã a limitar suas ambições nucleares.
"Eu disse a meus colegas em muitas capitais do mundo que eu acredito que não teremos nenhuma resposta séria dos iranianos até que o Conselho de Segurança aja", disse ela, referindo-se aos esforços liderados pelos EUA para a imposição de uma quarta rodada de sanções da ONU contra o Irã.
O porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, P.J. Crowley, disse que se o Irã não mudar seu comportamento após a visita de Lula, o país deverá pagar o preço.
"Neste ponto acreditamos que deverá haver consequências por um fracasso em responder", disse Crowley.
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