terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Jobim e ministros militares planejam golpe

A senha foi dada no dia 30 de dezembro passado, através de notícia (vazada ou plantada, não se sabe ainda com clareza) pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, no jornal O Estado de S.Paulo, num claro golpe contra o ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial de Direitos Humanos - SEDH, tendo como pretexto Programa Nacional de Direitos Humanos - PNDH-3 (especialmente no que diz respeito à criação Comissão da Verdade, para encaminhar o julgamento dos crimes e criminosos responsáveis pelos seqüestros, cárceres clandestinos, torturas, assassinatos e ocultação de cadáveres durante a ditadura) oficialmente feito público no dia 21 de dezembro, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em ato do qual participaram todos os seus ministros, exceto o senhor Jobim.

Era a senha da ultra-direita - não nos iludamos.

Na quinta-feira, 14 de janeiro de 2010, o Movimento Nacional de Direitos Humanos, marcou como data para a realização de atos em todo o país em defesa do PNDH; da criação Comissão da Verdade (e de suas atribuições), e do ministro Paulo Vannuchi.

Em atos realizados em São Paulo e o Rio de Janeiro, a PM compareceu.

Não caiamos em alarmismos, nem em armadilhas diversionistas.
Sigamos organizados, serenos e unidos na luta.
Defendamos o PNDH-3 e a Comissão da Verdade enquanto um todo.
Deixemos nossas eventuais divergências pontuais, para serem disputadas no momento adequado, durante seu encaminhamento para discussão e votação no Congresso Nacional.

Leiam abaixo sobre os incidentes nos dois atos, relatados por camaradas que foram testemunhas de ambos: Ana Maria Müller (RJ), Lúcia Rodrigues (SP) e Rose Nogueira (SP).

Sexta Feira, 15 de janeiro de 2010 os patrocinadores da Exposição sobre Carlos Marighela, promoveram o encerramento da mesma, e convidaram para a exposição de um filme sobre a trajetória do líder revolucionário à qual seguiria homenagens a familiares de Combatentes mortos pela repressão da Ditadura, dentre esses seria feita homenagem a Lucia Alves, filha de Mário Alves de Souza Vieira, preso político morto nas dependências do DOI-CODI no Rio de Janeiro,na madrugada de 16/17 de janeiro de 1970 e cujo corpo se encontra desaparecido até hoje.

Centenas de pessoas atenderam o convite feito e compareceram na sede da Caixa-Cultural, na Av. Almirante Barroso, centro do Rio de Janeiro.

Quando cheguei vivi a alegria de ver a quantidade de amigos e companheiros presentes ao evento e seguida da perplexidade de saber que nem todos poderiam participar, pois dependia de senhas que deveriam ser retiradas um tempo anterior à exposição do filme e a direção da Caixa não permitiu a colocação de cadeiras extras ou qualquer outra solução que abrigasse as centenas de pessoas que ali estavam. Estava ali para, sobretudo, abraçar minha amiga ZIDA XAVIER PEREIRA, militante emblemática da ALN, que teve a família assassinada pela repressão do Estado ditatorial – 2 filhos: Iuri e Alex - e seu genro Arnaldo, além de inúmeros companheiros que deram suas vidas pelo ideal revolucionário.

Não sabia das outras homenagens.

Após os debates e dado início às homenagens, dá-se a noticia que havia uma ameaça de bomba no local e que era preciso evacuar o prédio.

Carlos Fayal dirigia os trabalhos e insistiu nas homenagens primeiro à Vitória Grabois, pelos familiares mortos na Guerrilha do Araguaia – seu pai, seu irmão e seu marido. Em seguida, homenageia-se ZILDA, pelos filhos Yuri e Alex. Como a única filha de Mário Alves não estava presente, solicitaram- me que aceitasse receber e encaminhar quando possível à Lúcia o diploma..... ....

mas mal havia recebido o diploma quando não foi possível permanecer no local pois a segurança do prédio tinha a determinação para deixar o prédio vazio.

O cinema se localiza na sobreloja e o tempo que levei para sair da sobreloja e alcançar a calçada me pareceu longo, demorado demais para atravessar.. .... Estava assim meio atordoada. Com uma pasta bonita, cinza, abrigando um diploma sobre a bandeira brasileira como forma de reconhecimento pelos companheiros, 4 flores, e um outro filme passando pela cabeça, o qual trazia noticia de um tempo que parecia nem querer acreditar... ......... .

............ ......... . o início do ano de 1970 foi doloroso demais para mim: amigos presos passando para fora dos presídios a denuncia de tortura insana que não poupava ninguém.

Em dezembro muitos companheiros fdo PCBr foram presos e logo nos primeiros dias de janeiro, buscando furar um cerco policial, são baleados Ângela Camargo Seixas e Marco Antonio da Silva Lima, militantes do PCBr que foram levados ela ao hospital do exercito e ele deixado já moribundo no hospital Souza Aguiar.

Dia 16 é preso Mario Alves e levado ao DOI-CODI na Barão de Mesquita – Quartel do Exército, onde é torturado até a morte. Sua tortura foi vista pelos presos: Raimundo Jose Barros Teixeira Mendes e Antonio Carlos de Carvalho. Dia seguinte logo cedo os presos Jose Carlos Brandão Monteiro e Manuel João, antigos militantes do PCB são levados para limparem a cela toda ensangüentada e suja de tudo que a mente humana não pode registrar. Reconheceram Mário que sussurrava pedindo água e viram retirar seu corpo moribundo e levar para onde ninguém sabe.

Assim que chega a notícia, d. Dilma esposa de Mario Alves, inicia a incansável busca pelo seu paradeiro e se torna uma das fundadoras do grupo de familiares de Desaparecidos Políticos. De aparência frágil, mas com férrea determinação, d. Dilma denuncia a prisão de seu marido e exige saber de seu paradeiro. Protocola hábeas corpus de localização perante as Auditorias Militares, entrega cartas, faz denuncias para imprensa local e internacional e essa busca se torna sua grande luta até o final de seus dias.

Em 1980 promove ação judicial contra a União, requerendo a condenação por seqüestro, seguido de prisão ilegal, tortura, morte e ocultação de cadáver de seu marido– ação que muito honrosamente foi patrocinada por mim, Abigail Paranhos e Arthur Muller.

Em 1981 a 1ª Vara Federal do Rio de Janeiro, prolata a sentença procedente à família de Mario Alves e declara a União culpada pela morte de Mario Alves.

Dilma morreu sem saber o paradeiro de seu marido...

Sua única filha Lucia a sucede na luta e até hoje, 40 anos após o assassinato de seu pai, não sabe o que aconteceu naquele 17 de janeiro de 1970, quando carcereiros retiraram seu pai quase sem vida e o levaram para ............

......O lugar de onde vem as ameaças de bombas; de onde vem os murros nas mesas; de onde vem os ataques de autoritarismo. ...

...... quem tem medo dessas homenagens?

Certamente os que têm medo da verdade!

São quarenta anos que pesaram nas costas.

No peito, uma dor;

na mão um diploma para ser entregue e

na cabeça a pergunta: até quando essas sombras terão medo da verdade?

Em homenagem a d. Dilma, Lucia seu marido e filhos, e todos os familiares de companheiros mortos e desaparecidos,

Continuamos exigindo o esclarecimento sobre suas mortes que somente será possível com a abertura de todos os arquivos da repressão;

a localização dos restos mortais dos nossos companheiros.


De ANA MARIA MÜLLER


Estava ocorrendo a exibiçao do documentario de Silvio Tendler sobre CARLOS MARINGHELA e um debate relativo a COMISSAO DA VERDADE (PNDH 3 ), quando a policia pediu para que o local fosse evacuado sob a ameaça de que havia uma bomba no local. O predio que tal fato ocorreu foi o teatro ou auditorio da CAIXA ECONOMICA do Rio de Janeiro, à Av Almirante Barroso , NR 25 A direita terrorista continua atuante, sempre que tal noticia circula lembro de Dona LYDIA MONTEIRO, que tive a oportunidade de conhece-la nos anos 70 na OAB, a qual foi assassinada' por uma açao terrorista e até hoje permanecem impunes os autores desse hediondo crime.

De MARCELO SANTA CRUZ



A direita está alvoroçada e vai continuar tentando nos intimidar. O recuo do Lula favorece esses sujeitos. Precisamos nos manter coesos na luta pela punição dos torturadores. Todo mundo sabe que tortura é crime de lesa humanidade, é imprescritível. Portanto, os torturadores precisam pagar pelo que fizeram. Os recentes episódios nos dão ideia de que eles realmente estão temerosos e por isso promovem intimidações. Como a Rose já disse, quando os milicos entraram no auditório Vladimir Herzog eu fui pra cima. Na quinta eu não tava cobrindo para a Caros (acabara de chegar de viagem), fui ao ato como militante, mas fiquei indignada de ver os milicos dentro do nosso sindicato.

Fui pra cima para querer saber o que faziam ali. Entraram dois soldados bem jovens. Com a insistência minha para saber o que faziam ali, o soldado Ricardo Lima disse que haviam recebido um e-mail solicitando a presença da PM no local. Perguntei quem havia passado esse e-mail. Ele respondeu que o sindicato havia solicitado. "O sindicato solicitou, mandou que ficassemos na portaria. Estamos aqui desde às cinco da tarde, estamos aqui cumprindo ordens para patrulhar o local. Viemos para render os outros colegas, para o jantar. Não estamos aqui de graça, não estamos à toa."

Como eu não acreditei na história contada sobre a presença da força policial e insisti para que ele entrasse em contato com o batalhão para saber quem de fato havia mandado a polícia para ali, ele começou a tentar contato pelo rádio. Como lá em cima não tinha sinal, ele disse se poderiamos descer e eu desci com eles. No saguão, mais dois soldados. O soldado J. Ferreira que comandava os outros militares ficou puto porque o Ricardo Lima tava tentando ligar para o batalhão a pedido meu.
"Até que horas vai isso aqui?, questionou J. Ferreira ao outro militar que havia subido com o soldado Lima.

Como J. Ferrreira se identificou como o superior dos demais soldados passei a questioná-lo pela presença no local. Ele repetiu o que o outro soldado já havia dito. "Mandaram um e-mail solicitando a nossa presença.". Mais uma vez eu disse que essa informação era no minímo estranha e questionei mais uma vez quem havia solicitado a presença deles. Questionei de quem partira a ordem para que eles viessem. "Mandaram a gente vir aqui dar apoio para vcs. A gente não tem acesso, cumpre ordens."

Questionei o fato de eles estarem dentro de um prédio particular e terem entrado no sindicato sem serem convidados. Ele reconheceu que realmente era estranho e que essa era a primeira vez que isso estava acontecendo. Solicitei então que ele entrasse em contato com seu superior para saber quem havia solicitado a presença deles ali e quem havia dado a ordem para que eles estivessem ali. Ele ligou, falou com o tenente, mas a mesma história foi repetida. Solicitei então que o tenente viesse até a rua Rego Freitas para que me dissesse pessoalmente quem havia solicitado a presença da PM. Veio o tenente Aurimar e o aspirante of.PM Flávio.

"É uma determinação para o patrulhamento da área. Eu não questionei a ordem", afirmou Aurimar. Eu solicitei então que ele entrasse em contato com o seu superior para saber quem solicitou a presença deles ali. Ele disse que era impossível saber porque quem poderia responder o meu questionamento havia saído às 19h. Respondi que assim como nos plantões médicos os policiais que assumem o turno recebem as informações do turno anterior para saber o que está rolando. Solicitei portanto, que ele entrasse em contato com o superior de seu turno, porque obviamente essa informação exisitia. Ele começou a se irritar e disse que não ia gastar os seus créditos (celular). "Não vou gastar meus créditos. Eu como militar não vou falar", respondeu rispidamente. Eu disse que não estava falando para ele ligar do seu celular, mas do seu rádio. Disse que essas informações deveriam estar no computador da PM e que se a corporação não estivesse informatizada, que em algum papel a informação deveria constar. Ele ficou mais bravo ainda. Disse que não ia mais conversar comigo e se dirigiu para o soldado afirmando: "Encerra o talão, vamos recolher". Disse que se eu quisesse mais informações que entrasse em contato com a PM (surreal, para dizer o mínimo).

Pelo que os soldados haviam dito anteriomente eles pertencem ao 7º batalhão da PM, localizado na avenida Angélica, na zona oeste.

Como eles haviam ido à tarde no sindicato e foram recebidos pelo diretor André, eles consideraram o André como o responsável pelo evento. Depois conversei com o André que me contou que os recebeu em sua sala no Sindicato e que inclusive deu o seu cartão para o PM que foi até o local. O André negou que o sindicato tenha solicitado a presença da PM. "O sargento veio perguntar se precisava de apoio. Foi na minha sala, dei meu cartão. Não tem e-mail nenhum", afirmou.O soldado Ricardo Lima tinha ordem para pegar a assinatura. "Para constar no nosso relatório que estivemos aqui."

Segundo J. Ferreira as informações que constam nesse relatório, que eles chamam de talão, são: o nome do responsável pelo evento, o número do RG e o horário de início e término. Se tudo transcorrer normalmente colocam no relatório a sigla S/NOV (sem novidade).

Os quatro soldados que estiveram no prédio do Sindicato são: J. Ferreira, Ricardo Lima, Murilo e Vilares. Lima chegou a comentar que alguém no ato havia dito que a PM hoje tinha outra cabeça. Questionei então se eles estavam no corredor ouvindo. Ele negou que estivessem ali ouvindo o que estava sendo dito. "Nós subimos, mas não foi para atrapalhar.'

De LÚCIA RODRIGUES



Companheiros,

Curiosamente, a polícia também apareceu nos atos de São Paulo. Isso parece coisa organizada.

Acabei de mandar a cobertura do nosso ato pelo www.cloacanews em outro e-mail (só agora abri este), no auditório Vladimir Herzog, no Sindicato dos Jornalistas. Vejam a polícia lá, nas fotos, intimidando. Foi uma coisa meio louca, aparentemente rápida - depois soubemos que eles estavam no corredor do Sindicato há bastante tempo e ficaram ligando pelo celular (ou gravando, ou sei lá). Muita gente viu, achou estranho, mas só depois nos contou.

Quando dois PMs entraram no auditório - invadindo mesmo - foram direto para um canto pequeno, onde fica o banheiro feminino. Corremos atrás, fotografamos e eles deram desculpas como "estamos procurando um amigo". Que amigo? Ficaram loucos? Eu estava na mesa, mas saí, fui atrás deles e um me disse: "só queremos participar da cerimônia". Respondi-lhe: "Então sente aí". Eles estavam meio agressivos, meio idiotas. Mas acabaram saíndo e a repórter Lucia Rodrigues, da Caros Amigos, foi atrás.

Lucia contou que, na calçada, apareceu um tenente muito grosso e lhe disse estar cumprindo ordens, mas não disse de quem. Hoje liguei para a Ouvidoria das Polícias - o ouvidor, nosso companheiro Luiz Gonzaga Dantas, estava no ato e, curiosamente, a polícia só entrou depois que ele foi embora. Segunda-feira vamos prosseguir com o caso na Corregedoria da PM e no Ministério Público.

Vamos levar também a questão do Rio, para mostrar que não, não estamos vendo velhos fantasmas.

Na avenida Paulista, ao meio-dia, a PM interpelou nossos companheiros por duas vezes. E à tarde um sargento da PM esteve no Sindicato pra saber se faríamos o ato na rua - pois eles teriam de ser comunicados. Esclarecemos que não, que era interno. No fim, o André Freire, que é o secretário-geral, de-lhe um cartão de visitas. Pois não é que o sagento pediu o RG dele? Depois ele olhou o auditório e foi embora. Isso aconteceu mais ou menos às seis da tarde. O ato estava marcado para as sete. Com essa notícia do Rio, penso que é coisa organizada. Vamos investigar isso já - e publicar.

Um beijo.


De Rose Nogueira

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