terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Países convocam reunião de emergência para conter onda de violência no Haiti após terremoto; ONU pede reforço



O Estado Maior das Forças Militares dos 17 países que atuam no Haiti, chefiadas pelo general Floriano Peixoto, convocou na manhã desta segunda-feira uma reunião de cúpula de emergência para tratar da violência e segurança na cidade. Os militares admitem que a violência está aumentando e há uma urgência para não deixar que os criminosos que fugiram da Penitenciária Nacional na capital se reagrupem para formar gangues. Estes criminosos já voltaram para a favela de Cité Soleil , com 300 mil moradores, que reclamam que alguns grupos começam a intimidar a população batendo, roubando moradores e invadindo casas. O policiamento deve ser intensificado também no centro da capital e Bel Air, dois bairros onde os saques e tumultos estão se ampliando, criando um ambiente de caos.

O comandante do Exército brasileiro, general Enzo Martins Peri, afirmou na tarde desta segunda-feira, em Brasília, que as forças brasileiras estão sendo deslocadas para missões de segurança.

- A prioridade foi resgatar quem estava sob os escombros. Em um primeiro momento, as nossas tropas foram concentradas nessa tarefa(...) Agora as nossas tropas já retomam suas funções na segurança - disse.

O ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse que o Brasil vai mandar um navio da Marinha para o Haiti. Segundo ele, está sendo feito o planejamento imediato dos recursos e das necessidade de materiais para o Haiti nas próximas semanas.

O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, disse nesta segunda-feira que havia recomendado ao Conselho de Segurança da entidade adicionar 1.500 policiais e 2.000 soldados à missão de manutenção de paz da Organização das Nações Unidas no Haiti, depois do terremoto devastador da semana passada.

Ban falava a repórteres depois de se dirigir ao Conselho em uma sessão a portas fechadas. A Minustah, força de manutenção da paz do organismo no Haiti, tem atualmente cerca de 9.000 soldados e policiais no Haiti.

Os Estados Unidos enviaram nesta segunda-feira mais soldados para ajudar a proteger a enorme operação de assistência humanitária no Haiti, enquanto dezenas de milhares de sobreviventes do terremoto esperavam, desesperados, pelos alimentos e pela assistência médica prometida.

- Não temos capacidade para arrumar esta situação. O Haiti precisa de ajuda(...) Os americanos são bem-vindos aqui. Mas onde eles estão? Precisamos deles aqui nas ruas conosco - disse o policial Dorsainvil Robenson, que persegue saqueadores na capital.

O governo do Brasil enviará mais militares ao Haiti caso seja necessário, disse nesta segunda-feira o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, pouco depois de o secretário-geral da ONU anunciar que pedirá o envio de mais policiais e militares ao país.

- De imediato, o Brasil já tem 1.300 homens lá, mais que um batalhão(...) Não excluo a possibilidade de que, a medida que as coisas evoluam, se for necessário mais (militares), enviaremos - disse o chanceler a jornalistas no Rio de Janeiro.

O Brasil lidera as tropas militares da Minustah, a missão de paz da ONU no Haiti, país devastado por um terremoto de magnitude 7 na semana passada. Estima-se que 200 mil pessoas tenham morrido. Dezoito mortes de brasileiros já foram confirmadas, sendo 16 militares.

De um lado do Haiti, o desespero, e do outro, luxuosos cruzeiros

A menos de 100 quilômetros da área devastada pelo terremoto no Haiti, cruzeiros luxuosos atracam em praias particulares onde passageiros aproveitam variados coquetéis, e passeios de Jetski, parasail, entre outras atividades. Mesmo com a tragédia, que pode ter deixado 200 mil mortos, a rotina dos transatlânticos não foi alterada. O gigante Independence of the Seas, da Royal Caribbean International, desembarcou na sexta-feira no resort Labadee, refúgio que conta com forte esquema de segurança, ao norte da costa haitiana. Já o Navigator of the Seas, que conta com 3.100 passageiros, está marcado para chegar à região nos próximos dias, informou o jornal "Guardian".

A empresa americana aluga a paradisíaca ilha do governo haitiano para passageiros que querem relaxar com esportes aquáticos, churrascos, e fazer compras de souvenires em pequenas lojas no local durante o dia. A segurança é garantida por homens armados na entrada.

A decisão de manter a programação causou polêmica. Os navios levam ajuda com alimentos e a empresa afirmou que vai doar todos os lucros da viagem aos haitianos. Mas muitos passageiros permaneceram a bordo quando o navio atracou.

"Não consigo me ver pegando sol em uma praia, nadando, comendo churrasco, e aproveitando um coquetel, enquanto em Porto Príncipe há dezenas de milhares de corpos sendo empilhados nas ruas, com sobreviventes desesperados procurando por comida e água", disse um passageiro em um fórum de discussão na internet.

"Já foi difícil o suficiente sentar e comer um lanche em Labadee antes do terremoto, sabendo quantos haitianos passavam fome", afirmou outro internauta. "Não me imagino comendo um hambúrguer lá neste momento".

Alguns passageiros de navios programados para atracar na ilha temem que pessoas desesperadas invadam o resort para conseguir comida e água, mas outros parecem estar determinados em aproveitar as férias. "Estarei lá na terça-feira e planejo aproveitar a minha excursão e o meu passeio", disse uma pessoa.

"No fim, Labadee é fundamental para a recuperação do Haiti. Centenas de pessoas dependem de Labadee para sobreviver", disse John-Weis, vice-presidente da companhia. "Em nossa convera com o enviado especial da ONU ao Haiti, Leslie Voltaire, foi dito que o país iria se beneficiar com os lucros gerados em cada passeio. Também temos oportunidades tremendas de usar os navios para transportar suprimentos. Simplificando, não podemos abandonar o Haiti no momento em que mais precisam de nós".

De O Globo

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