Apesar da redução da pobreza nos últimos anos, a economia brasileira
ainda é sustentada pelo consumo de uma pequena parcela da população,
afirma o economista Sergei Dillon Soares, do IPEA (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada). Em entrevista para um boletim do CIP-CI (Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo),
ele defende que a melhoria da desigualdade de renda aumentou o peso dos
mais pobres no mercado, mas não a ponto de blindar o Brasil contra
crises econômicas — esse processo ajudou apenas “um pouco” a diminuir
os efeitos da recessão de 2009, por exemplo.
“O que podemos dizer é que, para além das muito prudentes políticas
macroeconômicas que foram seguidas no passado recente, e todo o resto
que foi feito corretamente — e o Brasil fez muitas coisas corretamente
— talvez a melhoria na desigualdade ajudou um pouco, foi um fator
adicional, mas certamente não o principal”, diz Soares.
A entrevista ao centro, um órgão do PNUD em parceria com o governo brasileiro, toma como base um artigo
do pesquisador sobre a redução no Brasil do Índice de Gini — que mede a
desigualdade de renda no trabalho. Ele comenta que há fortes indícios
de que um terço dessa redução deveu-se a políticas de proteção social e
um terço a melhorias na educação — e que ainda não há análises
consolidadas sobre o terço restante.
A iniquidade tem caído num “bom ritmo”, avalia Soares, mas “temos de
mantê-lo durante muitas décadas”. “Se você olhar para fora da janela,
você ainda verá como estamos desiguais”, afirma. “Não obstante as
recentes melhorias, os pobres ainda são muito pobres”, observa.
Quase toda a renda brasileira permanece concentrada nos 20% ou 30% mais
ricos, salienta o economista. O rendimento dos pobres “tem melhorado
muito”, mas eles “são ainda muito pobres e não estão suficientemente
ricos para sustentar uma economia com o seu consumo”. “Nós realmente
ainda não chegamos lá, estamos longe disso”.
O pesquisador do IPEA lembra que países de alto desenvolvimento humano,
como Dinamarca, Alemanha e França, demoraram “muitas décadas” para
atingir baixos níveis de desigualdade. Hoje, porém, os 50% mais pobres
desses países, e mesmo dos Estados Unidos, que é a mais desigual das
nações desenvolvidas, são importantes para a atividade econômica.
Para o Brasil manter o ritmo de redução da desigualdade, afirma Soares,
os programas de transferência de renda terão papel importante, mas não
tanto quanto a educação. Ele ainda cita a necessidade de mudanças
tributárias e reforma agrária.. “Há muitas coisas que precisam ser
feitas antes de sermos um país com baixa desigualdade. Temos ainda um
longo caminho a percorrer; nós estamos apenas começando a viagem”.
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