terça-feira, 23 de março de 2010

A INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA

O absoluto servilismo da mídia brasileira a interesses de empresas e países estrangeiros, norte-americanos principalmente, lembra uma barata diante da perspectiva do inseticida. A idéia de países latino-americanos integrados em organismos sem os EUA e sem o Canadá significa a perspectiva de morte.

Morte assim de verbas publicitárias, extras para jornalistas cooptados por fora, possibilidades que o Brasil transforme-se em potência econômica, política por conseqüência, contínuo processo de transformações sociais cada vez mais profundas e pior que tudo isso, a eventualidade que brasileiros bombardeados diariamente com o show e o espetáculo da mentira midiática, ganhem consciência de suas próprias identidades, da identidade nacional, se levantem e caminhem por suas próprias pernas.

A integração latino-americana aterroriza essa gente.

Por conta disso tudo que de errado acontece é atribuído ao presidente Hugo Chávez da Venezuela. O governo de Cuba é “contumaz” no desrespeito aos direitos humanos e ação de outros governos independentes em se tratando de Washington, é sempre ou “equivocada”, ou dependendo do governo, “terrorista”.

Um senador dos EUA já chegou a propor a inclusão da Venezuela no chamado “eixo do mal”, classificando o governo bolivariano de “terrorista”. Deve doer no bolso a perda propina paga pelas empresas petrolíferas. A idéia que o Congresso norte-americano seja diferente do Congresso Brasileiro e custe menos, como costuma mostrar a mídia, é errada.

Lá, como aqui, é expressivo o número de deputados e senadores com placa de “vende-se consciência, opinião, voto” e dependendo da época, campanha, por exemplo, fazem liquidação nos preços para tentar assegurar a volta.

Não se tem notícia, li isso outro dia, um desafio a quem quer que seja, de massacres em prisões cubanas. O preso que morreu por greve de fome, a mídia sabe disso, era criminoso comum. Sua família recebeu garantias do governo e organizações dos EUA que seria amparada até o final da vida no caso de morte, o que acabou por acontecer.

Se o contrato foi escrito recebem, caso contrário vão ficar a ver navios, é o jeito de ser dos EUA e suas agências.

Treze estados da federação norte-americana já estão anunciando recursos judiciais contra a nova lei que reforma a saúde no país. Não admitem que pessoas de baixa renda tenham acesso a esse direito fundamental consagrado na carta das Nações Unidas. O dinheiro público na cabeça dessa gente deve servir para salvar empresas como a General Motors, pagar bônus a executivos, evitar que bancos possam ir à falência.

Nada do que acontece na Colômbia acontece sem passar por Washington. Seja pelo presidente, pela secretária de Estado, ou um departamento específico, depende da importância.

São treze bases militares prontas a invadir a Venezuela, a ocupar a Amazônia brasileira (que já controlam boa parte através do SIVAM, sistema entregue a eles por FHC). O veto da suprema corte colombiana à candidatura de Álvaro Uribe a um terceiro mandato foi decisão dos EUA. Os vínculos de Uribe com o tráfico de drogas ficaram claros a partir da mídia naquele país e insustentável tentar repetir um novo mandato do presidente/trafican te.

As sistemáticas violações de direitos humanos através de grupos para militares chocaram parte da opinião pública nos EUA e uma nova frente de lutas com esse “contingente” não é desejável, levando-se em conta que uma formidável onda começa a se mover contra as guerras do Iraque e do Afeganistão, tanto quanto, boa parte dessa opinião, já se mostra distante do apoio incondicional dado a Israel.

O fim da União Soviética apressou as políticas imperialistas dos EUA. Os descuidos do presidente George Bush em relação à América Latina começam a ser “reparados” no governo Obama.

Os britânicos avançam sobre território argentino, as ilhas Malvinas, para saquear (são mestres nisso) o petróleo.

Nada ou nenhuma dessas ações é isolada. O fracasso da ALCA – Associação de Livre Comércio das Américas – que, a rigor transformava a todos os países latino-americanos em colônias, apêndices dos EUA, tanto quanto mostrar as intenções seculares dos norte-americanos em relação a essa parte do mundo mostram também o caminho da integração como o único compatível com aspirações de crescimento econômico, de justiça social, de independência efetiva.

Por todas as críticas que possam ser feitas ao governo Lula, por exemplo, justiça se lhe há de fazer por sua política externa. Transformou o Brasil de país de quatro e descalço num aeroporto de New York, num país que caminha pelas próprias pernas.

Na expectativa de recuperar o controle sobre a América Latina eliminando governos contrários aos seus interesses, tanto golpeiam a democracia em Honduras (onde a resistência se mantém ativa e forte), como tentam derrubar Chávez e criar toda a sorte de dificuldades para Cuba, Nicarágua, Bolívia, Paraguai, El Salvador, Equador e se atiram com voracidade incrível, mas comum aos impérios, sobre o processo eleitoral brasileiro na tentativa de fazer do governador de São Paulo, José Collor Arruda Serra, o próximo presidente da República.

Uma República de fantasia, uma colônia na realidade.

Um bloco político e econômico de nações latino-americanas, nos moldes anunciados pelo presidente Chávez, endossado por vários outros governos abre os caminhos para que possamos, povos latino-americanos, assumir o controle e traçarmos as linhas do nosso futuro, sem necessidade nem de tirar os sapatos e nem de cair de quatro.

Todo o conjunto de fatos produzido pela mídia (venal) e todo o espetáculo gerado por essa mesma mídia, tenta apenas colonizar a vontade do cidadão brasileiro, do cidadão boliviano, do cidadão cubano e assim por diante.

Não existe alternativa de sobrevivência dentro da verdade única do neoliberalismo, ou da globalização nos termos desse modelo. O outro mundo possível passa pela integração, cada vez maior.

Somos fortes demais, temos riquezas demais para nos deixarmos saquear outra vez, como o fomos ao tempo em que éramos colônias de espanhóis, portugueses, ingleses, franceses e agora de norte-americanos.

Essa sim é a perspectiva real de democracia, que significa ampla participação popular, de justiça social em todos os sentidos e de políticas que nos permitam a transformação naquilo que somos, latino-americanos, uma grande nação.

Fora disso é cair de quatro, é tirar os sapatos.

De Laerte Braga

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