quarta-feira, 17 de março de 2010
Carnaval de Salvador no mar da Barra! Impressionante! !!.
Dez dias após o carnaval, tres amigo resolveram mergulhar na área do Farol da Barra para confirmar a notícia de que havia uma quantidade absurda de lixo espalhada pelo fundo do mar naquela área.
Mesmo com a água um pouco suja por causa das chuvas do dia anterior, logo identificaram o local. Na verdade o lixo não estava espalhado, mas concentrado em um canal provavelmente em razão do movimento das marés. Uma cena lamentável! Eram pelo menos mil e quinhentas latinhas metálicas e garrafas plásticas.
Da superfície o visual parecia com as imagens áreas que viram dos blocos de carnaval durante a festa momesca. Só que ao invés de estarem pulando, dançando e se beijando ao som frenético e ensurdecedor dos trios elétricos, os foliões do fundo do mar estavam rolando de um lado para o outro numa mórbida coreografia, empurrados silenciosamente pelo balanço do mar, sem dança, sem alegria, sem vida e sem poesia.
Assustados, decidiram não retirar o material naquele dia na esperança de tentar sensibilizar algum veículo de comunicação para fazer uma matéria com imagens subaquáticas. A intenção era compartilhar aquela agressão carnavalesca com a população e os donos da folia.
Fizeram contato com pelo menos com três emissoras e todas pediram que enviassem e-mails com fotos, o que fizeram imediatamente. Aguardaram respostas por dois dias e como não tiveram qualquer retorno, optaram por retirar o lixão de lá para evitar maiores danos.
A bem da verdade estavam super desconfortáveis com suas consciências por terem testemunhado aquela cena e deixado para resolver o problema dias após. Mas tínham que tentar a matéria para que a ação não se resumisse somente à coleta do material.
Tínham em mente que a repercussão sensibilizaria os empresários e artistas do carnaval, os órgão públicos, a imprensa, as empresas financiadoras e nossa gente. A tentativa foi boa, mas não rolou…
Foram então, no terceiro dia após o primeiro mergulho, retirar o material. Antes, porém, fizeram questão de chamar um outro amigo que tem uma caixa estanque para filmarem a ação e guardarem o documentário visando trabalhos futuros e até mesmo a matéria que queríam na TV.
Sem cilindro de ar e contando apenas com duas pranchas de SUP (Stand Up Paddle) e alguns sacos grandes, eram quatro mergulhadores ousados retirando do fundo do mar tudo o que podíam naquela tarde.
Pouco antes de o sol se pôr conseguiram finalmente colocar todo o lixo na calçada.
Muitos curiosos, inclusive turistas, olhavam intrigados as suas atitudes e a todo o instante os questionavam sobre a origem daquele resíduo. A resposta estava na ponta da língua: Carnaval!
Vou logo informando aos amigos leitores que não sou contra o carnaval, muito pelo contrário, sou fã por diversos motivos, mas acho que a realidade da festa não guarda a menor relação com as belíssimas cenas, as informações rasgadas de elogios e a excessiva euforia amplamente divulgada pela mídia.
Sei que o comprometimento com os patrocinadores e aquela velha guerrinha de vaidades contra os carnavais de outros estados como Pernambuco e Rio de Janeiro, acabam conspirando para isso. Mas vejo aí um modelo cansado, super dimensionado, sem inovações socialmente positivas e remando na direção oposta ao desenvolvimento sustentável da nossa cidade.
Aquele lixo submarino é um pequeno sinal deste retrocesso. Pior, patrocinado solidariamente pelos grandes empresários, artistas e principalmente pelo poder público que tem o dever de melhorar nossa segurança, nossa saúde e educação.
E com o apoio descarado e escancarado da grande mídia, o PIG, que depois vêm fazer propaganda demagoga em pró da natureza.
Os amigos aproveitam o embalo para incluir indignação semelhante sobre os eventos realizados na praia do Porto da Barra durante o verão.
O “Música no Porto” e o “Espicha Verão” não tem trazido nada de bom para a cidade, além da oportunidade de verem ótimos artistas de perto e de graça. De resto, o lixo, o mau cheiro, a degradação ambiental, o xixi pelas ruas, a impressionante quantidade de ambulantes amontoados por todos os espaços públicos e a agressão aos patrimônios históricos, são um grande “pé na bunda” do turista de qualidade.
É o mesmo que olhar para uma bela maçã com a casca brilhante e aspecto suculento, porém, apodrecida por dentro…
Naquele final de tarde, os amigos acabaram contemplando um por do sol diferente. O monte de lixo empilhado na calçada do Farol da Barra virou atração. E como Deus é grande, foram brindados com a presença de valorosos catadores de rua para finalizar a limpeza.
Desta ação, além das ótimas imagens documentadas em vídeo, resta rezar para que os donos do carnaval, dos eventos no Porto da Barra e nossos queridos foliões se toquem que algo tem que mudar.
O fundo do mar não merece aquele bloco reluzente e, ao contrário do asfalto, o oceano costuma revidar violentamente as agressões sofridas.
Não tem alegria alguma no fundo da folia!
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