quinta-feira, 11 de março de 2010

Segredos e intrigas, amigos e inimigos no almoço de Aécio


Aécio Neves conversa com os senadores Agripino Maia (DEM)
e Tasso Jereissati (PSDB) (foto: Leo Drumond)


Ciro Gomes, PSB, pré-candidato a presidente da República, passa rente a José Serra, PSDB, pré-candidato a presidente da República. Ambos não se cumprimentam, sequer se olham.
Aécio Neves, PSDB, governador de Minas Gerais, abraça José Alencar, PRB, vice presidente da República, e lhe sussurra algo.
Geraldo Alckmin, PSDB, ex-governador e pré-candidato a governador de São Paulo, conversa com Rodrigo Maia e ACM Neto, o presidente e o deputado do DEM, enquanto Sérgio Guerra, presidente do PSDB, cochicha com os senadores Tasso Jereissati, possível candidato a vice-presidente pelo PSDB, e Agripino Maia, líder DEM. Antonio Anastasia, vice-governador de Minas e candidato a suceder Aécio, aproxima-se do governador e do vice-presidente da República.
Os garçons servem champanhe a ministros dos tribunais superiores, o cantor Fagner gargalha, o senador Wellington Salgado escreve uma mensagem no Livro dos Convidados.
Os ternos, quase todos em azul marinho. As gravatas, quase todas vermelhas.
É o bailado da sucessão presidencial de 2010.
O segundo grande ato da sucessão, este executado na tarde da quinta-feira 4 de março no Palácio da Liberdade, construção de 1897 encravada no coração de Belo Horizonte.
O primeiro ato se deu, semanas antes, na Convenção do PT que ungiu Dilma Rousseff candidata à presidência República.
Nesta quinta-feira o PSDB pretendia iniciar o seu ATO I, com o anúncio da chapa puro-sangue José Serra-Aécio Neves. Não conseguiu fazê-lo, e no almoço oferecido por Aécio as coxias fervilham.
Ainda ecoa, repercute entre os convivas, o coro de milhares de pessoas na Cidade Administrativa Tancredo Neves, inaugurada instantes atrás:
- Aécio presidente! Aécio presidente!
Coro entoado na presença de José Serra, o pré-candidato tucano à sucessão de Lula.
Aécio Neves recebe seus convidados à porta do elevador interno do Palácio ou à beira da escadaria art nouveau fundida na Bélgica.


Os governadores de Minas e São Paulo, Aécio Neves e José Serra,
o governador de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira (PMDB),
e o senador Casildo Maldaner (DEM/SC) (foto: Wellington Pedro)


Mesas postas em três salões por onde se formam e desmancham rodas de conversas e cochichos.
Ciro Gomes, provocado, diz que ele e Serra acabaram de se cumprimentar:
- Nos cumprimentamos cordialmente como deve ser com dois rapazes educados...
(pausa)
-... uns mais educados do que outros.
Ciro e Serra não se falam, não se olham nos primeiros passos do dueto.
Serra, à soleira da porta que leva à sacada do Palácio da Liberdade, onde confabulam ACM Neto e Rodrigo Maia.
Ciro, a menos de dois metros do governador de São Paulo, conversa com o irmão, Cid, governador do Ceará. Cid recorda o pai José Euclides Ferreira Gomes e filosofa:
- Como meu pai dizia, às vezes os prognósticos são apenas a expressão dos nossos desejos...
Ciro expõe o seu prognóstico. Ou desejo, como diria o velho José Euclides:
- Serra está vivendo um drama humano, isso é profundamente humano: a dúvida, a angústia de saber se vai ou não vai, e ele...
Ciro acha, ao menos diz de público, que Serra não vai.
Fiel ao seu estilo, o pré-candidato do PSB aproxima-se de Rodrigo Maia e ACM Neto e brinca:
- Como é que vocês, dois jovens, ficam com "O Coiso" e não comigo?
Sorrisos amarelos dos jovens DEM. Cara de paisagem de uma involuntária testemunha da cena; Geraldo Alckmin gostaria de não estar ali, mas Ciro aponta para o ex-governador enquanto dirige-se à dupla DEM:
- Ele fica p... da vida quando eu faço isso.
Mãos cruzadas abaixo da cintura, Alckmin vê-se obrigado a abandonar a paisagem. Sorri, discretamente.
Aécio passa por Serra e chega à sacada. Cumprimenta Maia e ACM Neto, puxa Ciro para o lado e com ele confabula por minutos.
Os garçons enchem taças. Segue o bailado da sucessão 2010.
Cabe a José Alencar a primeira mensagem no Livro dedicado ao dia, data do Centenário de Tancredo, da inauguração da Cidade Administrativa que leva seu nome, e data da chapa que não nasceu, a puro-sangue do PSDB.
Sucessão à tucanos. Com dois candidatos e ainda sem nenhum.
Horas antes, sob o arco desenhado por Oscar Niemeyer para a Cidade Administrativa, o coro:
- Aécio presidente! Aécio presidente!
Não uma, mas duas vezes. No segundo ensaio do coro, já no palco, capacete na cabeça e ladeado por alguns dos 13.048 operários da obra monumental, Aécio sorriu e com as mãos fez o gesto de "manera, manera". Foi atendido e o coro se esvaziou.
E Serra, o que teria pensado ao ouvir o estrondoso clamor de Minas à sua volta?
Ele não ouviu:
- ... Gritos? Eu estava ocupado na hora, não prestei atenção, nem percebi...
Segue o bailado.
Serra exercita a arte da abstração. Por exatos seis minutos e 45 segundos escreve uma mensagem para Aécio Neves.
No Livro, a ele oferecido por Dona Jovi, funcionária do Cerimonial, o governador de São Paulo constrói a mensagem. Caneta na mão direita, pensativo, Serra escreve o que a história registrará:
- Ao governador Aécio, sua equipe e os mineiros e mineiras, meu abraço e meu contentamento pela "Cidade" Tancredo Neves e por todo o notável avanço de Minas Gerais na direção do desenvolvimento, da justiça social, do equilíbrio regional, na contribuição maior ao Brasil,
José Serra
Antes dele, Ciro Gomes ocupa a segunda página do Livro. Com o estilo de sempre. Direto. Em dois minutos e meio:
- Aos mineiros do tempo do grande governador Aécio Neves. O Brasil tem uma dívida com Minas e seu povo. A cada transe, sempre Minas é quem acode o Brasil. De Felipe dos Santos a Itamar Franco, passando por Juscelino - de todos o maior - e Tancredo. Privilégio meu sua amizade,
Ciro.
Aécio se desloca, circula entre os convidados, os grupinhos, faz as honras da casa. Instigado, comenta notícia de que Lula pretenderia se licenciar por dois meses para mergulhar na campanha:
- Ele tá confiante, hein?
Serra, ao lado, ouve e mantém o silêncio.
Num pequeno púlpito, Dona Jovi de guardiã, avança o ritual das mensagens no Livro.
Wellington Salgado, senador do PMDB de Minas, expoente da tropa de choque governista alcunhado de "Cabelo" pela oposição, descreve o que lhe vai n'alma:
- Governador, duro é ter tudo que se imagina de um grande político da minha geração e por questões políticas ter que admirá-lo comportadamente e sem tê-lo no meu partido,
Wellington Salgado.
Um tucano se aproxima do Livro. Passa os olhos pelas mensagens, detém-se na página com a confissão de Wellington e murmura a sua confissão:
- ...está todo mundo doido pra trair...
Murmura, mas nada escreve no Livro.
Quem quer trair? E a quem?
Wellington Salgado, por exemplo, deixa escapar para um amigo:
- Na verdade, no PMDB ninguém está feliz, feliz mesmo, com a Dilma.
E no PSDB?
Segue o bailado.
João Almeida, da Bahia e líder do PSDB na Câmara, vê Serra passar. Analisa:
- Ele tá demorando muito...
Sérgio Guerra, presidente do PSDB expressa (prognóstico ou desejo?):
- E agora? O Serra é candidato. Não tem mais "e agora?", ele é candidato...
Aécio e Serra se despedem, um diz algo no ouvido do outro. Aécio provoca:
- ...e todos os dias os jornalistas perguntam se falamos, o que decidimos, o que falamos nas nossas conversas...
Serra sorri, Aécio sorri e emenda:
- ...nossos destinos estão traçados... nossos destinos já estão traçados.
Serra e Aécio têm conversado, dias e dias de conversas telefônicas, encontro reservado na noite-madrugada de terça para quarta, em Brasília.
Aécio já comunicou, e repetiu, e repetiu, e repetiu:
- Eu não serei vice!
Conversaram também sobre mais, muito mais do que isso, sondaram até o inimaginável.
Aécio e Serra se despedem no Palácio que já abrigou, já assistiu à urdidura do poder feita por Juscelino, Tancredo, Milton Campos, Benedito Valadares...
Serra se vai. Aécio murmura, como se fosse pra si mesmo:
- ...nossos destinos já estão traçados...
Fim do bailado tucano, ATO I.

De Bob Fernandes

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