quarta-feira, 3 de março de 2010

O arriscado pôquer do PSDB

“A dupla Serra e Aécio teria hoje um straight flush. Uma mão excelente. Mas, e se Dilma tiver um royal street flush? A razão da hesitação, assim, fica clara: ou a dupla corre da aposta ou paga para ver o jogo de Dilma”

Nessa altura do campeonato, até mesmo a cúpula do DEM já sabe que não agrega nada à candidatura de José Serra um candidato a vice filiado ao partido. O pessoal do Democratas já definiu como estratégia que desembarcará em peso em Belo Horizonte na quinta-feira (4), nas comemorações do centenário de nascimento de Tancredo Neves, para convencer o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, a aceitar ser o vice de Serra.

Numa matemática pura, a definição pela chapa Serra/Aécio parece óbvia. Enrolado até a raiz dos cabelos, o DEM hoje só funciona pela sua capilaridade, como cabo eleitoral, especialmente no Nordeste. Ninguém do partido acrescentaria. Ultimamente, chegou-se a cogitar o nome de Marco Maciel. Seria tudo o que Lula deseja. O presidente abriria uma garrafa de champanhe: é doido para tornar a eleição presidencial um plebiscito sobre seu governo em contraposição ao de Fernando Henrique; trazer de volta o mesmo candidato a vice só vai ajudar a reforçar essa comparação.

Em contrapartida, Serra e Aécio são governadores bem avaliados em seus estados, com excelentes índices de popularidades. Juntos, eles governam os dois maiores colégios eleitorais do país. Ali, estão nada menos que 33% dos eleitores brasileiros (o Nordeste inteiro tem 27% do eleitorado). Chapa fortíssima, ninguém discute. Ao contrário de qualquer nome do PMDB com relação a Dilma Rousseff, Aécio agregaria sem dúvida votos à chapa. Se Serra ainda é o líder nas pesquisas, com Aécio ao lado só tenderia a crescer. Se tudo isso é verdade, então por que tanto Serra quanto Aécio hesitam em colocar seus blocos na rua? Por que um e outro vacilam tanto em entrar na campanha e enfrentar logo Dilma?

A resposta é simples: eles sabem o tamanho que têm, mas ainda não conseguiram saber que tamanho tem Dilma. Se a eleição fosse um jogo de pôquer, a dupla Serra e Aécio teria hoje um straight flush. Uma mão excelente. Mas, e se Dilma tiver um royal straight flush? Eis o drama.

Nesse momento do jogo, eles poderiam desistir e recolher as suas apostas, ainda baixas. Com o cacife que têm, iriam Serra para uma reeleição aparentemente fácil em São Paulo e Aécio para uma barbada: a eleição para o Senado em Minas. Ou acreditariam no seu jogo e dobrariam a aposta presidencial. Nesse segundo caso, se tudo der certo, se elegeriam presidente e vice, quebrariam a sequência petista e levariam o PSDB de volta ao poder. Serra ou ficaria quatro anos e entregaria a presidência a Aécio ou ficaria mesmo oito anos (Aécio é jovem, trabalha para se eleger em seguida). Agora, se tudo der errado, os dois maiores nomes do PSDB ficarão sem mandato. Por pelo menos dois anos (se toparem o passo atrás de virar novamente prefeitos), vão ficar completamente fora do jogo do poder. A razão da hesitação, assim, fica clara: agora, o PSDB está diante de uma situação em que pode, com a sua jogada, ou quebrar a banca ou ir à bancarrota. Ou desistem ou pagam para ver o jogo de Dilma.

Entre os tucanos e a turma do Democratas, porém, há hoje um palpite de que Serra e Aécio aceitarão o jogo de risco. Por uma razão: a opção mais cômoda só é possível para um ou outro. Se Serra porventura desistir de ser candidato, Aécio, por mais que isso o desgoste, terá que assumir a tarefa. Uma desistência dupla entregaria a eleição no colo de Dilma. Ninguém aceitaria isso: nem o PSDB, nem o DEM, e é provável que também não aceitassem também os eleitores de Serra e Aécio em seus estados. Aos olhos de todos os que têm os dois como opção eleitoral, seria um inaceitável ato de covardia mútua.

Assim, se um dos dois vai ter que se arriscar, que se arrisquem os dois. Esse é o argumento que as cúpulas do DEM e do PSDB pretendem levar para Serra e Aécio. Que joguem suas fichas. O jogo começou.

De Rudolfo Lago

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