quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Na visita de Lula ao Santa Luzia, vaias a tucanos causam saia justa

A inauguração da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Bairro Santa Luzia, que era para ser o reconhecimento de uma parceria entre os governos federal, estadual e municipal, acabou ganhando tonalidade política, resgatando a disputa municipal de 2008 - entre PT e PSDB - e antecipando o embate nacional deste ano entre os dois partidos. De um lado, o prefeito Custódio Mattos (PSDB) e o Secretário de Estado da Saúde, Marcus Pestana (PSDB), discursaram sob vaias cerradas de cerca de 1.500 pessoas. No mesmo palanque, mas com uma recepção bem mais calorosa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), acompanhado da presidenciável e ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), foi ovacionado pelo público. O disparate no tratamento dado pelos populares a tucanos e petistas, num município governado pelos primeiros, acabou deixando o presidente em "saia justa". "Obviamente, sei que muitos de vocês estavam esperando há meses a oportunidade para vaiar o Custódio. Queria dizer aos meus companheiros que não é correto esperar a vinda do presidente da República para inaugurar uma obra para fazer isso."

Para Lula, a animosidade política vista no Bairro Santa Luzia na noite de ontem pode comprometer futuras inaugurações que pretende fazer ainda este ano. "O meu medo é que amanhã, ao invés de a imprensa explicar o que eu vim inaugurar aqui, a imprensa dê destaque apenas à animosidade que existiu entre o povo que veio na inauguração em relação ao prefeito e ao secretário." Ele revelou também que corre o risco de passar por situação semelhante a dos tucanos de Juiz de Fora quando for lançar obras em estados governados por oposicionistas. "Aqui estou aprendendo uma lição. Quem sabe seja Deus que fez acontecer o que aconteceu aqui hoje. Temos que tomar cuidado com a triagem daqui para frente." Outro receio, segundo o presidente, é quanto às parcerias. "O que vai acontecer é que nenhum prefeito vai querer ir comigo inaugurar, nenhum governador vai querer ir mais comigo inaugurar, mas a obra é de parceria."

Voto juizforano

Feito o desagravo, Lula dirigiu-se a Dilma para lembrar de sua "dívida de gratidão" com o povo de Juiz de Fora. "Dilma Rousseff, eu queria dizer a você que tenho uma história de gratidão com esse povo de Juiz de Fora. Em todas as eleições que eu participei para presidente da República, se dependesse de Juiz de Fora, eu teria sido presidente em todas." Na verdade, na disputa de 1994, Lula foi derrotado por Fernando Henrique no primeiro turno. Seguindo na seara eleitoral, o presidente lamentou a ação dos "adversários em Brasília" que acabaram com a CPMF, mas deixou claro acreditar vencerá as eleições de outubro. "Sei que não posso falar de política, mas podem ficar certos que nós vamos ganhar as eleições, para que a gente possa dar continuidade a essa coisa que está acontecendo no nosso país." Em seguida, ao ouvir gritos de "Dilma, Dilma", brincou com o público. "Vocês ficam gritando o nome da Dilma, se a Justiça Eleitoral achar que isso é propaganda, cada uma de vocês vai ser responsável por colocar um advogado para defendê-la, porque ela só pode falar de política depois de 3 de abril, quando deixar o Governo." E completou: "É importante tomar cuidado, porque caldo de galinha e cautela não fazem mal a ninguém."

Visita à usina serviu de palanque para ministra

A Usina Termelétrica de Juiz de Fora, onde o presidente Lula esteve ontem à tarde para a conversão da primeira turbina no mundo a utilizar bicombustível, é distante do tradicional reduto petista de Santa Luzia. Mesmo assim, quem acompanhou a solenidade já pôde sentir a prévia do que estava prestes a acontecer à noite, na inauguração da Unidade de Pronto Atendimento (UPA). A começar pela plateia petista - complementada por políticos e empresários da região -, que saudou com aplausos o presidente e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), e os demais ministros e deputados do PT presentes. Como se não bastasse, o público chegou a ensaiar vaias tanto na hora do pronunciamento do prefeito Custódio Mattos (PSDB) quanto no momento em que o governador Aécio Neves (PSDB) foi citado.

Se os discursos evitaram menções políticas, concentrando- se na questão energética, o clima eleitoral era nítido, mesmo antes de o presidente entrar no palco armado para o pronunciamento, marcado para depois da visita à usina. Enquanto o presidente ouvia explicações técnicas sobre o funcionamento da turbina, o público assistia, no telão, ao momento em que Lula sugeriu ao presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, que novas usinas flex sejam incluídas na próxima versão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), como quem conta que fará o sucessor em 2010. O esforço para colocar sua candidata em primeiro plano ficou evidente quando Lula, que já havia feito as honras de acionar a válvula para descarregar o etanol do caminhão, fez questão de ceder o lugar a Dilma - e, por tabela, ao ministro das Minas e Energia, Edson Lobão (PMDB) - na hora de apertar o botão que marcou o início simbólico da operação da turbina.

Não foram só os planos eleitoreiros que ficaram explícitos. Em seu bem-humorado discurso, o presidente usou de entrelinhas para enfatizar o "excelente momento" que o país está vivendo, alfinetando, é claro, a situação anterior à sua administração. "Tem época na vida da gente que tudo dá errado. Os filhos não vão bem na escola, a mulher e o marido têm desentendimento até por causa da novela, o salário nunca dá para atender às necessidades da família... E o Brasil passou muitas décadas vivendo essa fase. Foram mais de 20 anos, porque praticamente uma geração toda não teve notícia de geração de emprego, de aumento de vagas nas universidades ...", citou, afirmando que a situação mudou a partir de 2003. "Antes de nós, a palavra flex era muito utilizada como flexibilidade no mundo do trabalho, ou seja, facilitar a vida dos trabalhadores. Agora, a palavra flex é usada para gerar emprego no Brasil."

UPA começou a funcionar nesta quarta

Na manhã de ontem, bem antes dos eventos coordenados pela comitiva do presidente Lula, coube ao secretário de Saúde de Minas, Marcus Pestana, e à coordenadora nacional das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) do Ministério da Saúde, Carla Pintas, apresentarem à imprensa as novas instalações da UPA de Santa Luzia. A unidade começou a funcionar ontem. De acordo com Pestana, a inauguração do espaço é um sonho antigo, que, devido a problemas políticos causadores de uma "paralisia nas ações do município", não pôde ser realizado anteriormente. "Foi uma longa caminhada, mas valeu a pena. Juiz de Fora passará a ter, em breve, quatro unidades regionais de pronto atendimento. O mais importante é que isso não tem a ver com partidarismo, mas com uma ação conjunta da Prefeitura, do Estado e do Governo federal."

Entre as novidades no atendimento da UPA, o destaque ficou para o fato de que todos os pacientes passarão por protocolo de classificação de risco antes de serem atendidos, o que vai otimizar o serviço e priorizar casos de maior gravidade. Eles serão classificados de acordo com uma escala de cores (azul, verde, amarelo, laranja e vermelho), sendo que o azul refere-se aos casos mais simples e o vermelho aos mais graves. A unidade concentrará atendimentos de baixa e média complexidade, e as demandas traumatológicas e ortopédicas continuam concentradas no Hospital de Pronto Socorro (HPS).

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