Delcídio Amaral, Ideli Salvatti e João Pedro, os três senadores que representam o PT no Conselho de Ética se recusam a votar contra José Sarney.
Em público, o líder petista Aloizio Mercadante diz que o partido discorda do arquivamento sumário das 11 ações protoladas contra Sarney.
Mercadante insinuou que o PT se aliaria à oposição, para desarquivar pelo menos uma ação, relacionada à edição de atos secretos.
Em privado, a trinca de petistas com assento no conselho desdiz Mercadante. Mais: os “liderados” crivam o “líder” de críticas.
Acusam-no de “jogar para a platéia”, de “fazer jogo de cena”. De resto, negam que o PT tenha decidido devolver Sarney à grelha.
“A única decisão que foi tomada até agora foi a de não decidir”, dizia na noite passada um dos “petês” do conselho.
Dos três petistas com direito a voto no conselho, só João Pedro é titular. Delcídio é primeiro suplente. Ideli ocupa a segunda suplência.
Alçados ao colegiado a contragosto, Delcídio e Ideli não contavam com a hipótese de ter de votar. Foram, porém, à vitrine. Por quê?
Dois senadores do bloco governista renunciaram à condição de titulares do conselho: Antonio Carlos Valadares (PSB) e João Ribeiro (PR).
Numa tentativa de fugir ao voto, Delcídio e Ideli instaram Mercadante a nomear novos titulares. Gente do consórcio governista, disposta a livrar a cara de Sarney.
Além de “comandar” o PT, Mercadante é líder do bloco do governo. Um aglomerado partidário que inclui também PSB, PR, PCdoB e PRB.
Cabe a Mercadante fazer as indicações desse bloco para comissões e conselhos. Consultado, Roberto Cavalcanti (PRB-PB) se dispôs a ir ao conselho para livrar a cara de Sarney.
Mercadante se recusou, porém, a promover a alteração. Não quer ser pendurado nas manchetes como protagonista de uma manobra pró-Sarney.
Ideli e Delcídio tem encontro marcado com as urnas no ano que vem. A votação no conselho é aberta. Receiam que o voto pelo arquivamento lhes custe caro.
A dupla cogitou faltar à votação. Neste caso, porém, seriam chamados a votar o terceiro e o quarto suplentes do bloco. Quem são eles?
Um par de petistas anti-Sarney: Eduardo Suplicy e Augusto Botelho. A dupla é signatária de um manifesto que pede o afastamento de Sarney da presidênca.
Renan Calheiros –líder do PMDB, desafeto de Mercadante e general da tropa de Sarney— pressiona Delcídio e Ideli a “fazer o que tem de ser feito”.
Há ainda a hipótese da abstenção. Na prática, surtiria o mesmo efeito do voto contrário ao desarquivamento. Impediria a oposição de alcançar a maioria.
Estão em jogo no conselho 15 votos. Juntos, PSDB e DEM somam cinco. Precisam dos três votos do PT para chegar aos oito que levariam ao desengavetamento.
Mantido o cenário atual, Renan espera entregar a Sarney um placar de dez votos contra cinco. Ou sete a cinco, mais três abstenções.
Além de desarquivar pelo menos uma ação contra Sarney, Mercadante acenara à oposição com a manutenção na gaveta da representação contra o tucano Arthur Virgílio.
De novo, os “liderados” de Mercadante realçam o “contrasenso”. Ouça-se um deles: “Temos de ter uma posição uniforme...”
“...Como justificar a reabertura do processo contra Sarney e o arquivamento da representação do Arthur Virgílio?”
Escute-se outro: “Nessa hora, todo mundo é japonês. Não dá para tratar um assim e outro assado”.
Ou seja: os petistas do conselho até admitem o refresco a Virgílio, desde que o refrigério seja estendido a Sarney.
A bancada do PT é composta por 12 senadores. Pelo menos sete são favoráeis ao asfastamento de Sarney.
Curiosamente, Mercadante acomodou nas primeiras posições do conselho justamente os três mais identificados com a tese da “governabilidade” .
Daí a acusação, feita pelos próprios petistas, de que Mercadante joga para a platéia. Sabe que Sarney está salvo. Mas frequenta o noticiário em posição de ataque.
O que incomoda senadores como Delcídio e Ideli é a sensação de que Mercadante entra numa luta de boxe, por assim dizer, com a cara alheia.
Há no bloco do governo quem se disponha a fazer por obrigação o que os petistas fazem por pressão. Renato Casagrande (PSB-ES), por exemplo.
“Não vou pedir para ser nomeado para o conselho, mas se o Mercadante me indicar, estou pronto para afiar a enxada e atacar o eito”, diz Casagrande.
O senador não tem dúvidas quanto ao que deve ser capinado: “Até para que o presidente Sarney possa se defender, precisamos reabrir alguma coisa no conselho”.
A oposição, por sua vez, não perde a oportunidade de fustigar Mercadante: “Nós estamos nas mãos do PT”, repete à exaustão José Agripino Maia, líder do DEM.
O mesmo DEM que, em fevereiro, depositou 14 votos no cesto de Sarney, ajudando a enterrar a candidatura alternativa do petista Tião Viana.
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