A história muitas vezes demora a ser contada, mas algum dia acaba aparecendo em toda a plenitude. Foi o que aconteceu agora depois da revelação dos arquivos implacáveis do Departamento de Estado de 38 anos atrás mostrando que o então general de plantão Garrastazu Médici oferecia serviços subservientes aos Estados Unidos com o objetivo de desestabilizar governos eventualmente reformistas.
Dois anos antes do golpe que derrubou o presidente constitucional chileno Salvador Allende, Médici se reuniu com Richard Nixon, tendo como intérprete o general Vernon Walters, o adido militar estadunidense no Brasil que teve papel de destaque na derrubada de João Goulart. Médici colocou-se à disposição dos EUA para desestabilizar Allende e de quebra ofereceu ajuda, que se concretizou, para fraudar a eleição presidencial uruguaia. Na ocasião venceu fraudulentamente o candidato do Partido Colorado, Juan Maria Bordaberry, o mesmo que algum tempo depois, em junho de 1973, daria o golpe que levou o seu país a uma longa noite escura ditatorial. Hoje ele está em prisão domiciliar por ter dado o golpe que infelicitou o Uruguai. E os uruguaios vão às urnas em outubro para eleger o novo presidente e opinar num plebiscito sobre uma lei que livrou a cara de torturadores.
Como se tudo isso não bastasse, Médici chamou a atenção sobre o então presidente peruano, general Juan Velasco Alvarado, por considerá-lo pró-castrista. O documento tornado público revela o baixo nível do militar brasileiro ao fazer fofocas sobre questões pessoais de Alvarado. Na verdade, tanto Médici como Nixon e o famigerado Henry Kissinger, também presente na reunião na Casa Branca, temiam o surgimento de militares nacionalistas latino-americanos que defendessem os seus países contra investidas dos Estados Unidos.
Nos dias de hoje, o temor e o ódio que tinham do peruano Juan Velasco Alvarado, um general à frente de seu tempo e por isso acabou deposto por militares pró-Estados Unidos, transferiu-se para o atual presidente da República Bolivariana da Venezuela, Hugo Chávez. A história é clara: militar que defende interesses nacionais, e ainda por cima com preocupação social, não pode ser aceito pelos Estados Unidos, que acionaram todos os seus serviços de inteligência para neutralizá-lo.
Na verdade, os arquivos do Departamento de Estado tornados públicos revelam o que já se conhecia a boca pequena, ou seja, a intromissão indevida da ditadura brasileira em assuntos internos dos países latino-americanos. No Chile, por exemplo, militares e civis brasileiros participaram ativamente da conspiração que acabou derrubando Allende. O embaixador brasileiro na época, um tal de Câmara Canto, acusado de ser agente da CIA, comemorou com champagne a ruptura constitucional que levou o general Augusto Pinochet ao poder.
Se os leitores pensam que os arquivos disseram tudo sobre o período, enganam-se. Há muito mais coisa escondida. É o caso de um brasileiro de nome Aristóteles Drumond, hoje âncora de um programa de entrevistas do Rede Viva, canal 26 da Net, que circulava pelo Chile no início dos anos 70 levando armas a grupos de extrema direita, como o denominado Pátria e Liberdade, segundo denúncia formulada pelo historiador René Dreifus em seu livro A Internacional Capitalista – Estratégias e Táticas do Empresariado Transnacional 1918-1986 (pg. 229), uma leitura obrigatória para quem deseja conhecer a realidade daqueles anos de chumbo da história latino-americana.
Mas para se saber ainda mais coisas falta o governo brasileiro tornar público documentos da época que continuam escondidos. Está na hora mesmo. Se os arquivos implacáveis do Departamento de Estado de 38 anos atrás apareceram, porque os daqui não podem se tornar conhecidos? Ainda mais agora que o Brasil está empenhado no projeto de integração sul americana. Ou seja, temos uma dívida moral com os uruguaios e demais vizinhos deste Cone Sul.
No mais, para virar de uma vez por todas a página obscura dos anos de chumbo da América Latina, exige-se que a verdade apareça. Nesse sentido, o Presidente Lula com uma canetada pode fazer com que os arquivos sejam conhecidos pelos brasileiros. A hora é essa!
Já que estamos falando de fatos da história, vale lembrar que em Honduras, militares que derrubaram o presidente constitucional Manuel Zelaya foram assíduos freqüentadores da Escola das Américas, também conhecida como escola de assassinos, onde aprendiam, entre outras coisas, técnicas de torturas.
É o caso do chefe do Estado Maior Conjunto, Romeo Orlando Vásquez Velásquez, que se recusou a cumprir ordens relacionadas com a realização do plebiscito, freqüentador da Escola das Américas por duas vezes, em 1976 e 1984. O comandante da Força Aérea, general Luis Javier Prince Suazo, estudou por lá em 1996. Esta arma teve também participação direta na prisão e seqüestro de Zelaya, que depois de levado para uma base da Força Aérea foi colocado em um avião e enviado para a Costa Rica. Hoje, quase dois meses depois do golpe, os que tomaram o poder a força desrespeitam rotineiramente os direitos humanos.
Em tempo: senhores editores da mídia hegemônica, pesquisem para saber com quem a senhora Lina Vieira, ex-secretária da Receita Federal é casada. Procurem saber quem é Alexandre Firmino Melo Filho, segundo Paulo Henrique Amorim. Por que será que os editores da mídia hegemônica não destacam o fato? Lina Vieira é a tal senhora que diz ter se reunido com a Ministra Dilma Roussef e ainda por cima revelou que ela pediu para apressar as investigações sobre um filho do senador José Sarney.
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